Correio braziliense, n. 20315, 03/01/2019. Brasil, p. 7

 

O mantra da ministra

Gabriela Vinhal

03/01/2019

 

 

NOVO GOVERNO » Advogada e pastora Damares Alves faz questão de repetir várias vezes que é “terrivelmente cristã” ao assumir o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ela nega que as políticas LGBTs deixarão a pasta no governo de Bolsonaro

“O Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã”. A afirmação foi repetida diversas vezes pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, durante a cerimônia de transferência de cargo ontem. Aplaudida de pé por militantes pró-vida, lideranças religiosas e caciques indígenas, Damares fez um discurso choroso e emocionado, sobre a luta dela contra a pedofilia, contra a “doutrinação ideológica”, a favor da causa indígena, e da vida desde a concepção — ou seja, contra a descriminalização do aborto.

“Estou me sentindo em casa (na cerimônia), com os defensores da família, da vida e dos direitos humanos. O Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã. Acredito nos propósitos de Deus, que uniu um time, um exército”, disse.

O novo ministério será composto por oito secretarias e 12 conselhos ou comitês. A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres e a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que tiveram status de ministério nos governos dos petistas Lula e Dilma, ficarão subordinados ao ministério — que deve atuar em áreas, como direitos da mulher, da família, do idoso, da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, do índio e das minorias.

Entre os nomes estão Priscila Gaspar de Oliveira, na Secretaria Nacional das Pessoas com Deficiência; Sandra Terena, na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial; e Angela Gandra, na Secretaria Nacional da Família. Priscila é próxima à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e participou, inclusive, de transmissões ao vivo ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Sandra, por sua vez, é indígena e participou de um documentário. O filme teve colaboração da ministra, sobre infanticídio nas comunidades indígenas. Angela é doutora em filosofia do Direito e participou da audiência pública do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a descriminalização do aborto.

 

Diretoria

Quanto às demandas LGBTs, que não estariam sendo contempladas na Medida Provisória nº 870/19, assinada por Bolsonaro na terça-feira (1º/1), que trata das políticas e diretrizes destinadas à promoção dos Direitos Humanos, Damares afirmou que o assunto será tratado pela secretaria de Proteção Global, como uma diretoria. “Elas sempre foram atendidas em uma diretoria e nunca foi em uma secretaria. Bolsonaro respeitou a estrutura do governo anterior”, explicou.

Entretanto, a ministra afirmou que a “doutrinação ideológica” chegará ao fim — uma crítica direta às ideologias de gênero, também repudiadas pelo novo presidente. “No nosso governo, ninguém vai nos impedir de chamar nossas meninas de princesas e nosso menino de príncipes. Acabou a doutrinação ideológica no Brasil. Nossas crianças terão acesso à verdade e serão livres para pensar”, declarou.

Emocionada, Damares foi aplaudida de pé quando disse que, por ela, teria ainda a palavra “Vida” no nome do novo Ministério dos Direitos Humanos. “E eu digo Vida desde a concepção. Sangue inocente não será mais derramado em nosso país”.

A ministra esclareceu ainda que, assim como é a família dela, composta por ela e pela filha adotiva, todas as configurações familiares seriam respeitadas. “Precisava, sim, de uma secretaria da família, porque o governo do Bolsonaro vem com uma outra perspectiva. Todas as política públicas terão de ser construídas com base na família e todas as configurações familiares serão respeitadas”, completou.

O ex-ministro, Gustavo Rocha, não participou da solenidade, porque estava assumindo a Secretaria de Justiça do Governo do Distrito Federal.

 

Frase

“No nosso governo, ninguém vai nos impedir de chamar nossas meninas de princesas e nosso menino de príncipes. Acabou a doutrinação ideológica no Brasil. Nossas crianças serão livres para pensar”

Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos