Título: Dois minutos e muita confusão
Autor: Camargos, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 18/07/2012, Política, p. 6

Com o PSD dividido entre apoiar PSB ou PT em Belo Horizonte, dirigentes declaram guerra. Disputa vale tempo de propaganda eleitoral

Belo Horizonte — O tempo destinado ao PSD na propaganda eleitoral gratuita é de apenas dois minutos e dois segundos, mas o tamanho da confusão no partido é difícil de ser cronometrado e deve se arrastar por muito mais tempo até uma decisão definitiva sobre de qual lado estará a legenda novata. O secretário-geral do PSD em Belo Horizonte e em Minas Gerais, Alexandre Silveira, que é secretário de Gestão Metropolitana do governo de Antonio Anastasia (PSDB), promete fazer uma rebelião no PSD. O discurso de Silveira é voltado, principalmente, contra o presidente da legenda em Minas Gerais, Paulo Safady Simão. "O partido não pode ser conduzido de forma personalista, por uma, duas ou três pessoas. Temos que rever a direção em Minas", afirma Silveira.

Alexandre Silveira foi o mentor da ação que gerou a decisão liminar, na noite de segunda-feira, do juiz do Foro Eleitoral de Belo Horizonte Rogério Alves Coutinho, garantindo o apoio à candidatura do atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB), que tentará a reeleição em outubro. Entretanto, a direção estadual do partido, apoiada pela direção nacional, quer apoiar o candidato Patrus Ananias (PT). "Foi um grande equívoco da Justiça Eleitoral de Minas", afirma Simão, que disse ontem que recorrerá da decisão. O secretário-geral do PSD em Minas, por sua vez, alega que registrou a ata da convenção no prazo legal e que o apoio à candidatura majoritária do PSB e a coligação proporcional com o PPS foi aclamada por unanimidade pelo diretório municipal. A convenção do PSD foi realizada em um sábado e, no dia seguinte, o PT rompeu com Lacerda, decidindo pela candidatura própria. No dia seguinte, uma segunda-feira, de acordo com Silveira, o PSD reafirmou o apoio a Lacerda, em um encontro à noite no gabinete do prefeito. Porém, ainda segundo Silveira, a intervenção nacional do partido aconteceu sem consultar a base do partido.

Simão, que compactua da decisão de Kassab, discorda de Silveira. Afirma que os deputados federais da legenda foram consultados e que, inclusive Silveira, que foi eleito deputado, mas é licenciado pois é secretário estadual, foi convidado a participar da reunião e não apareceu. "Dos cinco deputados, quatro votaram pelo apoio a Patrus", garante Simão. Para o presidente estadual do PSD, o voto dos deputados federais é o mais importante, pois foi por causa da bancada federal que o partido conseguiu o tempo de televisão.

Brutalidade

A rixa entre os dois segue forte. Silveira considera a atitude da direção nacional do partido de apoiar Patrus um ato de "brutalidade e cheio de irregularidades". Ele entende também que a atitude prejudicou o partido, que, coligando-se proporcionalmente com o PPS, teria três candidatos a vereador. Na coligação com o PT, teria apenas um. "A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) e o ex-deputado federal Roberto Brant são testemunhas do que digo", garante Silveira. Kátia já manifestou sua indignação e chegou, inclusive, a receber convite do PMDB. Brant se desfiliou do PSD.

Depois do rompimento, Silveira acredita que sua atitude contribuirá para o partido. "A tentativa da direção nacional foi dar uma satisfação daquilo que eles prometeram para o governo federal", avalia. Ele engrossa o tom e quer que Simão e Kassab revejam as posições. "Do mesmo jeito que refluíram saindo do Lacerda para o Patrus, podem voltar", afirma. Sobre Simão, também diz: "Acho nobre a missão dele de fazer política empresarial, mas, se ele entendesse de política partidária, não teria feito as agressões que fez". Silveira diz ainda que o partido não tem coragem de expulsá-lo e que recebeu 200 mil votos na última eleição.

Simão afirma que tem orgulho de ter construído a vida fazendo política empresarial e que a coligação foi desfeita porque o PSB rompeu com o PT. "É difícil domar todas essa feras. Inclusive as feras do bem e do mal", afirma. Por fim, resumiu: "Esse guerra toda é por causa do tempo de televisão".

Comissões no Congresso Enquanto na esfera municipal o PSD vive guerra interna, em nível federal o partido obteve uma importante vitória. Parlamentares do PSD passarão a integrar comissões mistas, formadas por deputados e senadores. O Congresso aprovou ontem a resolução que concede o direito ao novo partido. Logo depois de anunciada a decisão, que prevê o acréscimo de um décimo do número de vagas para cada Casa (Câmara e Senado) em cada uma das comissões, a legenda informou os escolhidos para compor a Comissão Mista do Orçamento: os deputados Paulo Magalhães (BA), Eduardo Sciarra (PR) e Irajá Abreu (TO).

Petista define estratégia Explorar as diferenças de características políticas e pessoais com o outro lado e descolar os feitos de antigas gestões do PT do primeiro governo de Marcio Lacerda (PSB), que teve a parceria dos atuais adversários até o mês passado. Essa será a linha que vai nortear a campanha do petista Patrus Ananias, ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, pela prefeitura da capital. O candidato teve no domingo, em seu apartamento, uma primeira reunião de trabalho com o publicitário João Santana, marqueteiro da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2010, que assume a campanha de Patrus. O petista passou a terça-feira em reuniões com as equipes de coordenação de campanha e de formulação do plano de governo.

Humberto espera Lula

Rebeca Buarque Recife — O senador Humberto Costa, candidato do PT à sucessão no Recife, só vai conversar sobre apoio com o prefeito da capital, João da Costa (PT), depois do encontro que o gestor terá com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff. O debate em torno da aliança com o prefeito, inclusive, estará condicionado ao sucesso das duas reuniões. João da Costa foi preterido da disputa da reeleição e, por isso, reluta em apoiar o candidato do partido.

Humberto, ao ser questionado sobre os problemas de popularidade do prefeito, saiu em defesa do colega. Para ele, tudo é fruto de uma visão equivocada da população, que desconhece o que foi feito durante a gestão de João da Costa. Ele aproveitou para prometer que, munido de números, vai defender, durante a campanha, os 12 anos da gestão petista no Recife. "Eu quero que ele suba no meu palanque, mas se ele não subir, vamos seguir em frente", pontuou.

As declarações de Humberto foram dadas após reunião com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido — o petista é o segundo candidato na capital pernambucana a buscar aproximação com a liderança religiosa. Na semana passada, foi a vez do concorrente do DEM, Mendonça Filho.