Correio braziliense, n. 20337, 25/01/2019. Política, p. 3

 

Potencial para atrair US$ 100 bilhões

Hamilton Ferrari

25/01/2019

 

 

o retorno do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, para o Brasil, os investidores estrangeiros aguardam o cumprimento das promessas feitas pelas autoridades do governo federal: levar à frente a reforma da Previdência e reequilibrar as contas públicas. Estima-se que o país tem capacidade de atrair mais de US$ 100 bilhões, o equivalente a R$ 377 bilhões, caso consiga implementar o que foi apresentado aos dirigentes empresariais nos quatro dias da delegação no Fórum Econômico Mundial, em Davos (SUI).

Das medidas apresentadas, a reforma da Previdência é, de longe, a que mais agrada os investidores. É consenso de que o governo precisa atacar o avanço das despesas obrigatórias, que consomem 93% do orçamento e limitam investimentos em outras áreas. Desde 2014, o Brasil não sabe o que é conviver com um superavit no resultado primário, ampliando a dívida pública.

Guedes deu um sinal claro de que a proposta de mudança na legislação de aposentadorias e pensões pode chegar a uma economia de R$ 1,3 trilhão em 10 anos. Para os investidores estrangeiros, que são mais cautelosos, segundo analistas, a estimativa agrada, mas precisa ser implementada primeiro.

O economista-chefe da DMI Group, Daniel Xavier, avalia que há uma grande possibilidade de ampliar o fluxo de investimento estrangeiro. “Com a sinalização do governo federal no Fórum, eles ficarão de olho na abrangência da reforma, se vai incluir militares, a idade mínima, o período de transição e outros detalhes. Na ótica do investidor externo, o impacto fiscal nas contas públicas da proposta é o que dará confiança para ele investir ou não”, ressaltou.

Tanto que a primeira pergunta formal que Bolsonaro teve de responder em Davos foi a respeito das primeiras medidas a serem implementadas por ele. “É nisso que os investidores estão de olho e isso que vão monitorar a partir de agora”, afirmou Xavier. “A expectativa inicial é de que seja implementada no primeiro trimestre ou até no terceiro. É um horizonte que o mercado vai dar o prazo, com base nas negociações e no esforço do governo. Mas, se demorar mais que isso, não vai ser tão bom”, completou.

 

Confiança

O Brasil tem muita oportunidade de investimento, como explica o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo. Na interpretação dele, é complicado estimar quanto dinheiro o país conseguirá atrair, porque tudo dependerá da reforma da Previdência e de outras medidas necessárias para melhorar o ambiente de negócios e a aumentar a produtividade.

“Difícil saber valor, mas o que podemos prever é que, se a reforma for aprovada, a taxa de juros que os investidores vão exigir para financiar o governo vai diminuir, certamente, porque dá previsibilidade para o comportamento fiscal do país”, afirmou Camargo. “Isso significa mais confiança e, consequentemente, menos juros para aumentar a dívida.”

A infraestrutura e as privatizações também são grande oportunidade de investimentos. O custo barato no Brasil pode ser um atrativo. “Tem muito o que investir. São muitas oportunidades. Tanto nas privatizações, que o Guedes pretende fazer, quanto na construção de infraestrutura”, ressaltou.

O economista-chefe da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, não tem dúvidas de que haverá maior confiança dos estrangeiros no Brasil quando as medidas necessárias forem adotadas. “Eu daria um ano e meio a dois para o Brasil voltar a ter o nível de investimento que perdeu, nos últimos anos, das agências de rating”, previu.

 

Frase

“Na ótica do investidor externo, o impacto fiscal nas contas públicas da proposta (da Previdência) é o que dará confiança para ele investir ou não”

Daniel Xavier, economista-chefe da DMI Group