Correio braziliense, n. 20337, 25/01/2019. Política, p. 6

 

Jean Wyllys renuncia ao mandato

25/01/2019

 

 

CONGRESSO » Deputado do PSol, conhecido pela atuação em defesa da comunidade LGBT, diz que está sofrendo ameaças e que, por isso, decidiu morar no exterior. Segundo ele, violência contra população gay aumentou no país após eleição de Jair Bolsonaro

O deputado Jean Wyllys (PSol-RJ) decidiu renunciar ao terceiro mandato e sair do país. O parlamentar afirmou que está sofrendo graves ameaças e optou por deixar a vida política por tempo indeterminado. No exterior, ele promete continuar acompanhando pautas da comunidade LGBT, longe de grupos milicianos e de opositores exaltados que inundam as redes sociais com ameaças e boatos direcionados a ele.

Em sua conta no Twitter, o deputado agradeceu aos apoiadores e comentou o motivo da mudança. “Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores”, afirmou.  Jean Wyllys foi o primeiro parlamentar assumidamente gay a defender a causa LGBT no Congresso Nacional. Na Câmara, ele foi um dos principais rivais do atual presidente Jair Bolsonaro.  Na sessão de votação do impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016, após uma discussão acalorada, Bolsonaro levou uma cusparada no rosto.  À época, Jean Wyllys disse ter sido insultado pelo desafeto.

Também no Twitter, ontem, o presidente postou a mensagem: “Grande dia!”. Seu filho, o vereador do Rio, Carlos Bolsonaro, escreveu “Vá com Deus e seja feliz!”. Políticos de partidos de esquerda demonstraram apoio a Jean Wyllys em suas postagens.

O parlamentar está sob escolta da polícia desde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), no Rio de Janeiro, em março do ano passado. Ao jornal Folha de S. Paulo, Jean Wyllys disse que a eleição de Bolsonaro para a Presidência da República não foi o motivo preponderante de sua renúncia, mas, sim, o aumento do nível de violência no país. “Não foi a eleição dele em si. Foi o nível de violência que aumentou após a eleição dele. Para se ter uma ideia, uma travesti teve o coração arrancado agora há pouco. E o cara (o assassino) botou uma imagem de uma santa no lugar”, afirmou.

Ao Correio, o suplente de Wyllys, David Miranda, que deve assumir em fevereiro, afirmou que vê o novo mandato como um desafio e promete uma “oposição de enfrentamento e proposições”. “Sempre enfrentei batalhas. Já era para eu estar morto há muito tempo. Venho do Jacarezinho, sou negro, LGBT, fui torturado, enfrentei os governos dos Estados Unidos e da Inglaterra”, afirmou. David Miranda disse que recebeu a notícia da desistência de Jean Wyllys com muita tristeza, já que, segundo ele, o parlamentar é “um grande companheiro de partido e precursor da luta LGBT em um Congresso LGBTfóbico”.

“Sempre o admirei muito, apesar de pequenas divergências em pontos políticos”, disse. Questionado sobre quais seriam essas divergências, David preferiu não comentar. Ele afirmou que, na Câmara, pretende se dedicar a assuntos como “o genocídio da juventude negra, a comunidade LGBT, as mulheres, a demarcação de terras indígenas, o direito dos animais e todas as causas humanas”. “Está no meu sangue”, disse.

O presidente do PSol, Juliano Medeiros, afirmou que o partido sofre uma perda com a renúncia de Jean Wyllys, mas ressaltou que “as causas dele continuarão vivas”. “A decisão nos deixa tristes, nos abala. Não é um momento feliz para o PSol, mas vai servir como combustível para que enfrentemos esses canalhas que buscam produzir um contexto de terror e ódio. As causas do Jean vão continuar vivas, são as causas do nosso partido.”, disse.

 

Perfil

Representante dos movimentos LGBT, negro e de mulheres, Jean Wyllys participa de ações que combatem a homofobia, a discriminação religiosa e a violência contra a mulher. Foi eleito deputado federal pelo PSol-RJ em 2010, 2014 e reeleito em 2018 com 24 mil votos. É escritor, com quatro livros publicados, e apresentador. Já atuou como professor universitário e ganhou projeção nacional por participar do programa Big Brother Brasil, da TV Globo.

 

Frase

"Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo. Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores”

Jean Wyllys, deputado federal