O globo, n. 31246, 23/02/2019. País, p. 10

 

PF faz buscas em endereços de Ciro Nogueira

23/02/2019

 

 

Ação foi autorizada pela ministra Rosa Weber (STF) e investiga supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro; delatores apontam repasses de R$ 43 milhões ao PP em troca de apoio à campanha de Dilma em 2014

Depoimentos de colaboradores da J&F deram origem à Operação Compensação

A Polícia Federal cumpriu na manhã de ontem mandados de busca e apreensão em residências e sedes de duas empresas ligadas ao senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP. Os mandados foram autorizados pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), e cumpridos nas cidades de Brasília, São Paulo e Teresina. As investigações apontam para supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Não foram expedidos mandados a serem cumpridos no Senado. Batizada de Operação Compensação, a ação de ontem, que reuniu 30 policiais federais, teve como origem os depoimentos prestados por colaboradores do grupo J&F. Os executivos afirmaram ter repassado cerca de R$ 43 milhões ao Partido Progressista, em pagamentos em espécie e doações oficiais, por intermédio de Ciro Nogueira, em troca de apoio político da legenda ao PT na campanha para a eleição presidencial de 2014. No pedido enviado ao Supremo, a Procuradoria-Geral da República explica que, segundo investigações preliminares, parte da propina paga ao partido de Ciro Nogueira foi viabilizada por meio de doações oficiais, porém simuladas. A outra parte, no valor de R$ 5 milhões, foi paga em espécie por meio de uma pessoa ligada ao senador. No total, sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos, além da entrega de intimações para fins de depoimentos dos envolvidos.

De acordo com a delação do empresário Ricardo Saud, Edinho Silva, que atuou como coordenador financeiro da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, teria intermediado o pagamento com Ciro Nogueira. Além disso, o empresário Joesley Batista relatou ter oferecido o pagamento de R$ 8 milhões ao senador para que ele adiasse uma reunião do PP em que o partido, provavelmente, decidiria romper com o governo de Dilma. Segundo Joesley, houve um pagamento de R$ 500 mil em 2017 (um ano depois do impeachment), em dinheiro vivo, na casa do senador piauiense. O PP acabou rompendo com o governo de Dilma Rousseff e apoiando o impeachment da ex-presidente. Na abertura do processo, na Câmara dos Deputados, 38 parlamentares do partido foram favoráveis e quatro contrários. No Senado, todos os seis parlamentares — incluindo Ciro Nogueira — votaram pela abertura do processo. Já na votação definitiva do impeachment, os mesmos seis senadores foram novamente favoráveis, mas Roberto

Muniz (BA) — que era suplente na época da primeira votação —foi contrário. A assessoria de Ciro Nogueira afirmou que as acusações são improcedentes. Já o PT não comentou a ação da PF.

Opinião do GLOBO

Limites

BOLSONARO PASSOU a campanha criticando o “toma lá, dá cá” na política, mas, ao viver a experiência real da necessidade de negociar um projeto estratégico como o da reforma da Previdência, vê que precisa abrir espaço para aliados.

ATÉ AQUI, nada de errado. O que não pode é, em nome da busca por apoio no Congresso, permitir que indicados a cargos públicos possam desviar dinheiro para fins partidários ou particulares.