Título: Chile prende coronéis da ditadura
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 18/07/2012, Mundo, p. 16

A Justiça do Chile, o país sul-americano que mais blindou seus militares na transição da ditadura para o regime democrático, ordenou ontem a detenção de dois coronéis da reserva acusados da morte de Alberto Bachelet, general do Exército e pai da ex-presidente Michelle Bachelet. O advogado da família, Isidro Solis, anunciou que ela também apresentará queixa criminal contra os dois oficiais. Eles foram detidos horas depois pela brigada de Direitos Humanos da Polícia de Investigações e transferidos para a base aérea de El Bosque, em Santiago.

Uma investigação sem conclusões foi encerrada em 2005, mas o caso foi reaberto em 2011 e o procedimento levou ao indiciamento dos coronéis da Força Aérea Ramón Cáceres e Edgar Ceballos. Segundo a decisão do juiz Mario Carroza, que conduz o processo, os militares serão julgados como responsáveis pelo "crime de torturas com resultado de morte".

Único país da América Latina onde o orçamento da defesa é diretamente ligado às receitas da principal riqueza nacional — a Lei do Cobre destina ao setor 10% dos rendimentos obtidos com o minério —, o Chile somente passou a ter os militares subordinados ao governo civil na última década, como explica o cientista político Eduardo Viola, da Universidade de Brasília (UnB). "Considerando que esse foi o regime militar que se manteve mais protegido em toda a América Latina, durante a transição democrática, essa notícia é de muito impacto", ponderou Viola, destacando a força do regime comandado pelo general Augusto Pinochet (1973-1990), que, após deixar o poder, continuou por vários anos como chefe do Exército. Pinochet morreu em 2006, antes de ser julgado.

O general Alberto Bachelet foi preso após o golpe militar contra o presidente socialista Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, submetido a um Conselho de Guerra e acusado de traição à pátria, por pertencer ao gabinete de Allende. O oficial ficou preso até a morte, em 12 de março de 1974, na penitenciária pública de Santiago. Ele tinha 51 anos e, segundo testemunhas, sua saúde estava muito debilitada. Uma perícia trazida à tona com a investigação de 2011 revelou que o general foi torturado durante interrogatórios, o que teria agravado seus problemas cardíacos e resultado na morte.

A ex-presidente, hoje diretora executiva da ONU Mulheres, e sua mãe, Ángela Jeria, também foram detidas em um centro de tortura, em 1975. A investigação sobre a morte do general Bachelet integra uma série de investigações abertas pela Justiça chilena, relacionadas à morte de mil vítimas da ditadura cujo destino até hoje não foi esclarecido.