O globo, n. 31246, 23/02/2019. Economia, p. 22

 

Guedes sugere simplificar Censo ou vender prédio

Bruno Rosa

23/02/2019

 

 

Objetivo é viabilizar pesquisa, orçada em R$ 3,4 bilhões. Instituto precisa de autorização para contratar 240 mil temporários. Especialistas afirmam que modificar levantamento requer cuidado para não perder informações relevantes para o país

Diante das dificuldades do IBGE para custear o Censo 2020, orçado em R$ 3,4 bilhões, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu ontem que o instituto venda seus prédios para custear a execução da pesquisa ou que reduza o número de perguntas. Guedes participou da cerimônia de posse da economista Suzana Cordeiro Guerra na presidência do IBGE. Especialistas e ex-presidentes do instituto ponderam que qualquer mudança na pesquisa, que é base para uma série de políticas públicas, deve ser feita com cuidado para não prejudicar a produção de conhecimento sobre o país, com a interrupção de séries históricas e informações necessárias para a formulação de políticas públicas de âmbito nacional, estadual e municipal. Os dados do Censo são usados, por exemplo, como critério na distribuição de recursos para o Fundo de Participação dos Municípios. A pesquisa também é usada para políticas de mobilidade urbana, além de produzir dados sobre condições socioeconômicas em favelas, entre outras informações. No ano passado, o IBGE gastou R$ 6,7 milhões com projetos-piloto para o Censo. Neste ano, o instituto pediu ao governo verba de R$ 344 milhões, mas só recebeu R$ 270 milhões. Com isso, a compra de equipamentos para a coleta de dados já foi adiada. O restante dos recursos necessários para a pesquisa deve ficar para 2020. Além disso, o instituto depende de autorização do governo para contratar, por meio de concurso, 240 mil funcionários temporários para o Censo até meados deste ano.

'Sejamos espartanos'

No evento, Guedes classificou como “enigma” a quantidade de edifícios do IBGE. São três sedes e seis prédios pelo Centro e Maracanã, na Zona Norte do Rio. Ele criticou o fato de o presidente da instituição trabalhar com vista para o Pão de Açúcar. — Tem um enigma ainda não resolvido, que são as três sedes e seis prédios. Falta dinheiro para o Censo, mas o presidente fica de frente para o Pão de Açúcar, a diretoria fica no Centro e turma da ralação fica aqui (no Maracanã). Tem que acabar com o privilégio da vista para o mar do presidente.

Ele sugeriu que todos os funcionários fiquem em apenas um endereço, provavelmente no Centro do Rio. O ministro da Economia também disse que o Censo pode ser simplificado, com menor quantidade de perguntas. — O Censo de países ricos tem dez perguntas. O brasileiro tem 150 perguntas. Sejamos espartanos e façamos o essencial. É dramática a nossa situação. Ninguém tem bala de prata. O ex-presidente do IBGE e professor de economia da PUC-RJ Sérgio Besserman diz que é preciso cuidado com a redução do Censo, de forma a evitar perdas com séries históricas relevantes. Porém, ele acredita que é importante buscar um equilíbrio no atual cenário de crise fiscal.

— Não vejo nada de mais em fazer uma análise de custo-benefício, mas aderente às melhores práticas. Segundo ele, o Censo no Brasil é extenso, pois os registros administrativos, como os de municípios e estados, são precários. Por isso, a pesquisa é importante para definir políticas públicas: — Sempre quando se aproxima do período da pesquisa, muitos grupos pedem para que sejam incluídas determinadas questões. Um exemplo é a quantidade de animais. É relevante e importante. Mas uma pergunta representa um custo. O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), questiona se a redução no número de perguntas vai de fato baixar custos. Ele sugere combinar o modelo atual com o uso da internet: — Mas essa é uma tarefa que cabe ao IBGE. Não se pode perder informações importantes. Não podemos destratar o Censo. Ao mesmo tempo, é necessário fazer um exercício para saber o que é relevante e ver quais perguntas são essenciais. Em discurso, a nova presidente do instituto destacou a redução do número de funcionários, que passou de 7 mil para 5 mil em oito anos. —E pode perder mais 30% este ano com os que vão se aposentar. E isso tudo em seu maior desafio, de implementar o Censo. Mas vamos enfrentar com respeito às boas práticas de responsabilidade.