O globo, n. 31242, 19/02/2019. País, p. 6

 

Mais um militar que serviu no Haiti com vaga no primeiro escalão

Karla Gamba

Natalia Portinari

19/02/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Com perfil discreto, ministro é o oitavo militar que assume uma pasta na gestão Bolsonaro; Onyx será o único civil com vaga no Palácio do Planalto

Peixoto se viu obrigado a negociar com os EUA o controle das ações após o terremoto

 

“Ele é acima de qualquer suspeita”. Assim o agora ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno definiu, em novembro de 2018, o general de três estrelas chamado para ser seu principal auxiliar no Palácio do Planalto. Com larga experiência em missões de grande escala do Exército, dentro e fora do Brasil, Floriano Peixoto seria escalado para fazer um “pente-fino” nos contratos da Secretaria de Comunicação (Secom) do governo. Era este o plano traçado por Bebianno antes do começo do governo, relatado em entrevista à GloboNews.

Menos de três meses depois, o prognóstico do coordenador da campanha de Jair Bolsonaro, derrubado pela primeira crise do governo, não se confirmou. Peixoto ficou distante dos contratos da Secom, que entraram na alçada do também general Santos Cruz (Secretaria de Governo), justamente pela interferência de Carlos Bolsonaro. O filho que controla as redes sociais do pai não queria Bebianno na chefia da estratégica Secom. Assim foi feito.

De perfil discreto, Floriano Peixoto, de 65 anos, é mineiro de Tombos. Será o oitavo militar no primeiro escalão do governo Bolsonaro e tornará o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o único civil entre os ministros palacianos.

O general da reserva Floriano Peixoto Vieira Neto iniciou sua carreira militar em 1973, na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), e foi contemporâneo do presidente Jair Bolsonaro na instituição, formando-se em 1976, um ano antes de Bolsonaro. Concluiu a carreira no Exército com três estrelas, penúltimo escalão do generalato.

Foi no Haiti, porém, a partir de 12 de janei rode 2010, que o oficial enfrentou se umais duro desafio: Peixoto comandava amissão de paz da ONU (Minustah), quando um terremoto devastou a capital do país, matando mais de 300 mil pessoas, de acordo com as autoridades locais. No dia do terremoto, ele estava nos Estados Unidos.

Ao retornar para o Haiti, viu um país devastado, além de amigos e colegas mortos. Foi obrigado a organizar e coordenar uma série de grupos de trabalho para assegurar ajuda humanitária internacional e reconstruir o país.

No auge da crise, dias depois do abalo, enfrentou uma difícil negociação com os Estados Unidos, que enviaram 16 mil soldados para os trabalhos de reconstrução e ajuda emergencial. Os americanos acenaram com o forte desejo de assumir o controle das operações. Coube a Peixoto negociar uma saída diplomática, que não retirou do Brasil o comando da Minustah.

Em 2004, ele esteve à frente do Batalhão Brasileiro, na primeira equipe que participou da missão. Outros integrantes da ala militar do governo Bolsonaro, como Augusto Heleno (GSI), Santos Cruz (Secretaria de Governo) e Rêgo Barros (portavoz) também atuaram na Minustah. Até hoje, a situação do Haiti não está estabilizada, e o país vive, atualmente, uma grave crise política.

Floriano Peixoto é especialista em planejamento. Tem larga experiência de relacionamento com entidades governamentais e ONGs, que tiveram atuação preponderante no Haiti e, agora, estão na mira da administração de Bolsonaro.

Além da formação pela Aman, o novo ministro tem mestrado em Ciências Militares e doutorado em Política, Estratégia e Alta Administração pela Command and General Staff College (CGSC), dos Estados Unidos. Também estudou na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, onde graduou-se na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. É ainda formado em Administração de Empresas, com MBA em Gerência Executiva. Ele passou para a reserva do Exército em março de 2014.