O globo, n. 31242, 19/02/2019. País, p. 6

 

Aliados tentam ‘virar a página’, de olho na Previdência

Amanda Almeida

Jussara Soares

Daniel Gullino

19/02/2019

 

 

Parlamentares do PSL reconhecem desgaste com o caso e defendem Bebianno, mas hipotecam apoio à decisão do presidente

Aliados do presidente Jair Bolsonaro reconheceram ontem que a demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria Geralda Presidência pode provocar“um ferimento” na relaçao com o Congresso, no entanto, passaram a tratar do episódio que desencadeou uma crise política no governo como uma “página virada”.

Líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO) afirmou que agora é preciso focar na votação da reforma da Previdência e do pacote anticrime, os principais projetos do governo no Congresso. Ele acredita que os projetos não terão sua tramitação afetada pela queda de Bebianno.

Delegado Waldir ressaltou que defendeu a permanência deBeb ian nona pasta na semana passada, devido ao trabalho no comando do PSL nas eleições. Mas disse que Bolsonaro perdeu a confiança em Bebianno pela suspeita dele ter vazado conversas entre os dois.

—É uma página virada. Esse trem de Bebianno aí acabou já. Agora, tem Previdência, pacote de segurança pública. Mas houveu maque brade confiança. O motivo da demissão é o vazamento de áudios particulares do presidente para a imprensa. O Bebianno não praticou nenhum crime.

Acrise começou com acusação de que o PS L usou o fundo partidário para financiar candidaturas laranjas nas últimas eleições. Mas o ápice ocorreu coma divulgação de um áudio numa rede social por Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Na gravação, Bolsonaro se nega a falar com Bebianno, que havia dito que estava em permanente contato com ele.

O líder do PSL disse que não há desconforto com a atuação de Carlos. Segundo ele, não é possível censurar os filhos do presidente, e disputas dentro do partido são normais. O deputado comparou a legenda ao programa “Big Brother”.

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que a crise que levou à demissão de Bebianno causou “um ferimento” na relação entre governo e Congresso. Joice diz que intercedeu junto a Bolsonaro pela permanência de Bebianno e que atuou como “bombeira”, ao lado dos ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), por uma “condução com menos calor” e que “não impactasse no Congresso”.

— De fato, nós tivemos ali um ferimento, é uma ferida na relação Congresso/governo, porque os líderes começaram a me dizer o seguinte: ‘poxa vida, então a gente vai ser tratado assim também? Será que a gente vai ser tratado, vai ser fritado em praça pública?’.

Já a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) considera que Carlos apenas expôs a verdade. Ela admite que a situação não é corriqueira, mas afirma que isso é apenas um reflexo da transparência do governo.

Líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP) admitiu que a queda de Bebianno gerou desgaste ao governo, mas ressaltou que a decisão é de Bolsonaro eque elear espeita:

— O presidente teve todo o seu tempo, o do seu livre arbítrio e convencimento, para tomar sua decisão. Todo mundo sabe que defendia permanência do Bebianno e procurei serenar os ânimos. Masa decisão é do presidente. Não há o que se questionar. Então, eu hipoteco o meu apoio.

Para Olímpio, não há “responsabilidade objetiva” de Bebianno no “eventual uso de recursos a qualquer candidato”.

Requerimento no Senado

A oposição ao presidente Jair Bolsonaro vai insistir em um depoimento de Gustavo Bebianno no Senado. O líder da minoria, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou ontem requerimento pedindo que o ex-ministro seja convidado a falar aos senadores. A intenção é votá-lo amanhã.

Major Olímpio disse que a base governista ainda definirá como irá atuar em relação aos requerimentos da oposição.

“Todo mundo sabe que defendi a permanência do Bebianno e procurei serenar os ânimos. Mas a decisão é do presidente. Não há o que se questionar”

Major Olímpio, líder do PSL no Senado

“Esse trem de Bebianno aí acabou já. Agora, tem Previdência, pacote de segurança pública”

Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara