Correio braziliense, n. 20335, 23/01/2019. Política, p. 2

 

Estreia rápida na cena mundial

Paulo Silva Pinto 

23/01/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro fez ontem sua estreia internacional com um discurso de seis minutos no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Foi o primeiro chefe de Estado a falar no evento deste ano. Sucinto, tocou nos pontos que a plateia de investidores mais estava interessada: o governo busca melhorar o ambiente de negócio no Brasil, com desburocratização, incentivo ao comércio internacional e redução da criminalidade. Ele enfatizou também o meio ambiente, tema sensível ao público mundial e sobre o qual pairam dúvidas quanto às ações que serão promovidas no mandato dele. À noite, em reunião com empresários, ele afirmou que, por ora, o Brasil vai continuar no Acordo de Paris sobre o clima.

Por meio do Twitter, Bolsonaro destacou que foi o primeiro líder de um país no Hemisfério Sul e de fora do G7, o grupo das nações mais ricas, a discursar na abertura do evento. A intervenção dele teria, a princípio, 45 minutos. Foi reduzida para meia hora. Mesmo com as questões, porém, não passou de 16 minutos no total. Houve críticas de analistas quanto à superficialidade das propostas apresentadas. A recepção do público local foi fria, com poucos aplausos ao final, indicando certa decepção, já que a procura por ingressos para garantir um lugar no auditório havia sido grande.

Logo depois de chegar ao púlpito, Bolsonaro disse, espontaneamente, estar “emocionado” por se dirigir à plateia. Em seguida, começou a ler um discurso preparado por ministros e assessores. Destacou o fato de ter vencido as eleições “gastando menos de US$ 1 milhão e com oito segundos de tempo de televisão, sendo injustamente atacado a todo tempo”.

Em relação a mudanças constitucionais ou legais, ele apenas citou a intenção de fazê-las, sem detalhes. “Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós”. Procurou se calçar na qualidade da equipe, citando a presença dos ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo; da Economia, Paulo Guedes; e da Justiça, Sérgio Moro. “Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos primeiros países em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo”, ressaltou. “Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso Pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda é pouco conhecido.”

Ele disse considerar injustas as críticas dirigidas ao governo pela política ambiental. “Somos o país que mais preserva o meio ambiente. Nenhum outro país no mundo tem tantas florestas como nós”, destacou. Há, porém, cerca de 30 países pobres e ricos com níveis de preservação de biomas equivalentes ou superiores aos do Brasil, incluindo Coreia do Sul, Japão, Finlândia, Rússia, Suriname e Congo. Para Bolsonaro, o Brasil precisa “avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade e o necessário desenvolvimento econômico”. Os “verdadeiros direitos humanos” e a defesa da família também foram citados no discurso.

 

Carga tributária

Bolsonaro mencionou a necessidade de reduzir a carga tributária e colocar o país entre os 50 melhores do mundo para fazer negócios — hoje está em 109º lugar no ranking do Banco Mundial. Ele mencionou também a intenção de abrir a economia brasileira e de fortalecer a Organização Mundial do Comércio (OMC), algo que contradiz a intenção dos aliados norte-americanos, que buscam reduzir o poder do órgão.

Quando indagado por Klaus Schwab sobre quais os passos para a transformação econômica do país, o presidente elencou as reformas citadas antes e a ênfase no comércio, acrescentando que “questão ideológica deixará de existir” nas relações diplomáticas. O fundador do Fórum pediu mais detalhes quanto à preservação ambiental, mas tampouco conseguiu obtê-los. “O que pudermos aperfeiçoar, faremos”, se limitou a dizer o presidente.

 

O mais curto

O discurso de Bolsonaro em Davos foi muito menor do que os feitos por outros presidentes brasileiros que participaram do Fórum. Em 2014, Dilma Rousseff falou por pouco mais de 32 minutos. Alguns anos depois, Michel Temer usou 30 minutos, incluindo perguntas. Já Luiz Inácio Lula da Silva fez três discursos na plenária de Davos, todos incluindo perguntas. Em 2003, falou por 28 minutos; em 2005, por 27 minutos; e em 2007, por 38 minutos.