Correio braziliense, n. 20341, 29/01/2019. Política, p. 9
Pronto para voltar ao poder
Gabriela Vinhal
29/01/2019
Quase cinco meses após a facada, o presidente Jair Bolsonaro retirou a bolsa de colostomia ontem, em uma cirurgia concluída “com êxito”, após sete horas de duração. O procedimento, que ocorreu no Hospital Albert Einsten, em São Paulo, fez a união entre o intestino delgado e a parte do intestino grosso. Bolsonaro está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), clinicamente estável, consciente e sem dor, segundo o boletim médico. Ele recebe medidas de suporte clínico, prevenção de infecção e de trombose venosa profunda. A operação não teve intercorrências e não foi necessária transfusão de sangue.
Iniciado às 8h30 e encerrado às 15h30, o procedimento durou mais do que a previsão inicial, que era de três horas, por causa do método escolhido pelos médicos para a retirada da bolsa. Em razão das outras duas cirurgias realizadas pelo presidente desde o atentado, a área entre o intestino grosso e o delgado estava muito afetada e, por isso, os cirurgiões optaram pela técnica mais complexa, conhecida como “anastomose do íleo com o cólon transverso”.
Como a área entre os intestinos que estava ligada à bolsa ficou machucada, a equipe médica decidiu retirar o pedaço afetado, que mede de 15cm a 20cm, e ligar ao intestino delgado, com mais irrigação sanguínea do que o grosso. Com mais sangue circulando, a cicatrização é mais fácil e rápida, com chance menor de trazer complicações futuras. A opção mais simples era apenas unir as duas pontas do intestino grosso. Assinaram o boletim de saúde do presidente os médicos Antônio Luiz Macedo (Cirurgião), Leandro Echenique (clínico e cardiologista) e Miguel Cendoroglo (diretor-superintendente do hospital).
Segundo o porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, o atraso na realização da cirurgia, que estava prevista para começar às 6h30, mas teve início às 8h30, se deu devido ao alto número de “aderências” no corpo do presidente, devido ao histórico de procedimentos realizados nele desde o dia da facada. “A cirurgia foi conduzida de uma forma muito especial, muito cuidadosa, particularmente porque o presidente possuía, em razão das últimas duas cirurgias, uma grande quantidade de aderências e elas exigiram do corpo médico uma verdadeira obra de arte”, disse, em coletiva de imprensa no fim da tarde de ontem.
Recuperação
O general Otávio Rêgo Barros explicou ainda que, após a cirurgia, o presidente segue em jejum, com administração de soro pela veia. A avaliação médica será feita diariamente, sempre pela manhã, para a reintrodução alimentar da forma mais adequada. Hoje, o presidente começa o tratamento de fisioterapia com foco respiratório e motor, vai caminhar dentro do quarto e será avaliado diariamente para novas definições. “Quero, desde já, em nome do Planalto e da Presidência da República, agradecer ao hospital e aos cirurgiões, que se debruçaram em torno do nosso presidente, para dizer-lhes da nossa satisfação e do nosso otimismo na recuperação de nosso presidente e nossa gratidão pela eficiência e eficácia da ação”, agradeceu o porta-voz.
Bolsonaro foi internado na manhã de domingo, assim que chegou à capital paulista, para realizar exames pré-operatórios e ficará na unidade de saúde por mais 10 dias para se recuperar. Estavam no hospital a primeira-dama, Michelle, e três dos cinco filhos do presidente — Jair, Renan, o vereador Carlos e o deputado federal Eduardo. O mais próximo dos filhos, Carlos, acompanhou o pai durante todo o tempo no centro cirúrgico, enquanto o primogênito, o senador eleito Flávio Bolsonaro, não compareceu no local, tampouco a caçula, Laura.
Aos 63 anos, o presidente passou pela terceira cirurgia desde o dia do atentado, em 6 de setembro, quando levou uma facada durante um comício em Juiz de Fora (MG). Ele foi internado às pressas na Santa Casa da cidade com uma grande hemorragia interna, após os ramos da artéria e da veia mesentéricas terem sido atingidos pela faca. Ele teve perfurações que atingiram o intestino delgado e o grosso. Por isso, houve o vazamento de fezes, que foram retiradas da região atingida, com tamanho aproximado de 10cm. Uma extremidade do intestino grosso foi isolada e a outra, ligada à bolsa de colostomia, que Bolsonaro usava desde então.
Cinco dias após a facada, depois da transferência para o Hospital Albert Einstein, o presidente precisou passar por mais uma cirurgia. A equipe médica detectou um bloqueio em uma das alças do intestino delgado, que impedia a passagem do suco entérico, que vem do estômago. O líquido começou a pressionar o intestino delgado, até romper os pontos de um dos cortes. O cirurgião responsável desbloqueou a alça do intestino e liberou a passagem do líquido. Refez os pontos e limpou o local novamente. Ao todo, Bolsonaro ficou internado 23 dias no ano passado.
Frase
“O presidente possuía, em razão das últimas duas cirurgias, uma grande quantidade de aderências e elas exigiram do corpo médico uma verdadeira obra de arte”
General Otávio Rêgo Barros, porta-voz da Presidência