O Estado de São Paulo, n.45726 , 27/12/2018. Política, p.A6
Ex-Governador do ES é assinado
O ex-governador do Espírito Santo Gerson Camata, de 77 anos, foi morto na tarde de ontem em Vitória. Ele recebeu um tiro no pescoço e não resistiu. O autor do disparo é um ex-assessor que foi preso logo após o crime no mesmo bairro. Camata esteve à frente do Estado nos anos 1980 e foi eleito senador por três mandatos. O crime aconteceu na esquina das ruas Joaquim Lyrio e Chapot Presvot, na Praia do Canto, bairro nobre da capital capixaba.
O autor do crime é Marcos Vinícius Moreira Andrade, de 66 anos, que trabalhou com Camata durante 20 anos. Segundo o secretário de Estado da Segurança Pública, coronel Nylton Rodrigues, o assassinato teria sido motivado por uma ação judicial movida pelo ex-governador contra seu ex-assessor, que teve dinheiro bloqueado em sua conta por causa do processo.
“A arma utilizada foi apreendida e a motivação do crime lamentável é uma ação judicial movida pelo nosso ex-governador em desfavor de um ex-assessor seu. Esse ex-assessor trabalhou com Camata por 20 anos e teve R$ 60 mil bloqueados em sua conta. (Ontem), na Praia do Canto, o autor do crime foi tirar satisfação ao encontrar Camata na rua. Neste encontro, iniciouse uma discussão verbal, quando Marcos sacou uma arma e efetuou os disparos.”
Em 2009, em entrevista concedida ao jornal O Globo, Marcos Vinícius denunciou suposta rotina de mesadas de empreiteiras e notas frias no gabinete de Camata. O ex-assessor o acusou ainda de desviar 30% do salário de funcionários para pagar despesas pessoais. Na época, o então senador negou as acusações e apresentou documentos que, segundo ele, comprovavam sua inocência.
O assassino foi preso pouco depois das 18 horas, no mesmo bairro, a poucos metros do local do crime. Em depoimento à polícia na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ele confessou o assassinato. “O autor do homicídio está preso. Já confessou o crime”, disse Rodrigues.
Camata era casado com a exdeputada tucana Rita Camata, e deixa dois filhos (mais informações nesta página).
‘Surpresa’. Após o crime, familiares de Camata, políticos e integrantes da cúpula da Segurança Pública do Estado estiveram no local. “Na semana passada estive com ele, e ele não comentou que estava sendo ameaçado”, disse Lúcio Camata, primo do ex-governador. “Foi uma surpresa isso que ocorreu. Não entendemos esse motivo. Ele nunca usou segurança, nem quando era senador, pois sempre foi um homem livre, de ajudar as pessoas e de fazer o bem. É difícil até falar”, afirmou.
O presidente Michel Temer lamentou a morte do ex-governador pelas redes sociais. “Lamento a morte do grande político, ex-jornalista, deputado estadual, deputado federal, senador constituinte, governador do Espírito Santo e meu amigo, Gerson Camata. Meus sentimentos de sincero pesar à família”, escreveu Temer.
O governador do Estado, Paulo Hartung, colocou à disposição as instalações do Palácio Anchieta, sede do governo capixaba, para a realização do velório. Hartung decretou luto oficial de sete dias no Estado.
“Recebi com muita tristeza a notícia da morte de um amigo. Gerson foi o primeiro governador eleito no nosso Estado no período de redemocratização do País. Fez um governo realizador e que entrou para a história dos capixabas. O Espírito Santo perde uma de suas principais lideranças”, afirmou Hartung.
Solidariedade. O governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), declarou solidariedade à família de Camata. “É lamentável que um homem como ele, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do nosso Estado, tenha perdido a vida de forma tão trágica. Nos despedimos hoje, com muita tristeza, desse líder carismático e agregador, que fez história no Espírito Santo. À família, meus sentimentos e minha solidariedade nesse momento de dor.”
O prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), decretou luto oficial de três dias. “O Espírito Santo perde uma grande liderança.” / LUCIANA ALMEIDA, ESPECIAL PARA O ESTADO
‘Liderança’
“Gerson fez um governo realizador e que entrou para a história dos capixabas. O Espírito Santo perde uma de suas principais lideranças.”
Paulo Hartung
GOVERNADOR DO ESPÍRITO SANTO
PERFIL
Gerson Camata,
ex-governador do Espírito Santo
Carreira política começou em 67
Nascido em 29 de junho de 1941, Gerson Camata era formado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Tornou-se conhecido como radialista na década de 1960, no programa Ronda Policial, da Rádio Espírito Santo, que era líder em audiência.
Gerson Camata iniciou a carreira política em 1967, como vereador de Vitória, pela Arena. Em 1970, elegeu-se deputado estadual e, em 1974, deputado federal pelo Espírito Santo, pelo mesmo partido. Foi reeleito em novembro de 1978 e, com a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a consequente reorganização partidária, filiou-se ao PMDB, de oposição ao governo.
Em 1981, casou-se com a exdeputada federal Rita Camata, com quem teve um casal de filhos, Bruno e Enza Rafaela.
Em 1982, foi eleito governador do Espírito Santo com 67% dos votos – ele comandou o Estado de 1983 a 1986. Em 1986, desincompatibilizou-se para concorrer a uma vaga no Senado. Atuou na Assembleia Nacional Constituinte. Reelegeu-se em 1994 e em 2002, totalizando 24 anos de atividade no Senado.