Correio braziliense, n. 20331, 19/01/2019. Política, p. 2
Tensão na força-tarefa da Lava-Jato
19/01/2019
Além de decidir se as diligências em relação ao ex-assessor Fabrício Queiroz ficam no Supremo, Marco Aurélio deve avaliar a troca de informações entre o Coaf e o Ministério Público. A possibilidade de haver uma restrição legal no intercâmbio de informações preocupa a força-tarefa da Lava-Jato.
Muitos dos casos investigados e até com sentença proferida no âmbito da operação se baseiam em informações repassadas pelo conselho. O temor é de que, se o pedido do senador eleito for acolhido, outros réus ou condenados pleiteiem o direito de terem partes de seus processos anuladas.
Para a advogada Bruna Canto, do escritório Mattos Engelberg, o combate à corrupção pode ser enfraquecido a depender da decisão. “Muitos investigados também foram presos com base em documentos obtidos em apurações do Coaf. Abre-se um delicado precedente, caso as provas contra o filho do presidente sejam anuladas”, explica.
Para Bruna, o foro privilegiado é uma questão que precisa estar totalmente alinhada entre os integrantes do governo. “Não há irregularidade em usar o foro, a questão é se manifestar contra esse privilégio durante a campanha e usá-lo ao conquistar o poder”.
Desgaste
O cientista político Ivan Ervolino, criador da start-up de monitoramento legislativo Siga Lei, acredita que toda a polêmica envolvendo justamente o filho do presidente pode acabar desgastando o governo. “Jair Bolsonaro fez uma campanha com o mote do fim dos privilégios. Falava que era a opção para oxigenar a velha política. Não se pode usar um arcabouço de proteção: autoridades devem permanecer ao alcance da lei para responder o que precisa ser respondido”, frisou. Para Ervolino, os eleitores que votaram em Bolsonaro para evitar a volta do PT, por exemplo, serão os primeiros a migrar, caso denúncias continuem aparecendo.
“O PSL canalizou o desejo conservador da sociedade, criando ruídos nos eleitores que preferiam ficar na sombra. A questão não envolve quem é a favor ou contra, pois o dispositivo é democrático e condensou gente que não se sentia representada. O que se defende é que, daqui pra frente, a militância vai se refinar, e os eleitores médios vão migrar”, argumentou. (RS e BB)
“Muitos investigados também foram presos com base em documentos obtidos em apurações do Coaf. Abre-se um delicado precedente, caso as provas contra o filho do presidente sejam anuladas”
Bruna Canto, advogada