Correio braziliense, n. 20346, 03/02/2019. Política, p. 3

 

Renascimento do Democratas

Rodolfo Costa

03/02/2019

 

 

NOVO GOVERNO » Com a vitória do senador Davi Alcolumbre na eleição para a Presidência do Senado, legenda assume um protagonismo na política nacional que não tinha desde o governo tucano. Vai comandar as duas casas do Congresso

A vitória do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi a cereja do bolo para sacramentar o renascimento do Democratas (DEM). Depois de assumir a oposição nos governos petistas e disputar espaço e prestígio com os tucanos no Congresso, a legenda deixa um passado recente relegado ao segundo plano para assumir o protagonismo na política nacional. Afinal, além da Presidência do Senado, o partido conta com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Presidência da Câmara e o comando de três ministérios: Casa Civil, de Onyx Lorenzoni; Agricultura, de Tereza Cristina; e Saúde, de Luiz Henrique Mandetta.

O partido também avançou nos estados. Nas eleições de 2018, emplacou dois governadores: Ronaldo Caiado, em Goiás; e Mauro Mendes, em Mato Grosso. No pleito de 2014, não havia elegido nenhum. No entanto, nem tudo são flores. O DEM recuou em tamanho na Câmara, de 43 deputados para 29 eleitos. Ainda assim, o balanço é positivo, avalia o presidente nacional da legenda, ACM Neto. “As vitórias de Davi e Rodrigo para as presidências do Senado e da Câmara representam o fortalecimento do Democratas. O nosso compromisso é com o país. A nossa agenda é ajudar o Brasil a crescer e a superar a crise que afeta milhões de pessoas”, destacou.

Não é para menos o entusiasmo do mandatário. O partido retoma um protagonismo que não se via desde as gestões do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Entre 1995 e 2003, sob outro nome, o PFL, o Democratas ocupou a vice-presidência da República, com Marco Maciel. Entre 1993 e o fim do governo tucano, ocupou a Presidência da Câmara em três mandatos e a Presidência do Senado, em dois mandatos consecutivos. Voltou a ter papel de destaque somente com a primeira eleição de Maia, em 2017.

A mudança de PFL para DEM veio em 2007. O sucesso da primeira gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o Democratas perder muitos votos nas eleições de 2006, principalmente no Nordeste. Muita gente saiu do partido e a legenda começou a se enfraquecer, lembra o historiador e cientista político Alessandro Farage. O golpe mais duro ocorreu nas eleições de 2014, quando o PSDB — o principal aliado — concorreu com uma chapa pura, formada por Aécio Neves e Aloysio Nunes. “Ali, o DEM correu o risco de virar um partido pequeno e sem expressão substancial nas disputas nacionais”, avaliou.

A ascensão do DEM, analisou Farage, é resultado de muita estratégia e articulação política, ao ponto de vencer os candidatos do MDB na Câmara, Fábio Ramalho (MG), e no Senado, Renan Calheiros (AL). Mas, também, é a consequência de um processo de reacomodação político-ideológica relacionada à dinâmica da sociedade brasileira, pondera o sociólogo e cientista político Eurico Figueiredo, professor e diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Os eleitores expressaram, nas últimas eleições, a volta de uma perspectiva conservadora”, destacou.