Correio braziliense, n. 20346, 03/02/2019. Brasil, p. 7

 

O sistema por trás do resgate

Mateus Parreiras​

03/02/2019

 

 

TRAGÉDIA EM MINAS » O centro de comando montado na Faculdade Asa de Brumadinho reúne todas as forças e os serviços públicos de várias estruturas da esfera federal. A atuação integrada é fundamental para garantir respostas rápidas diante do caos que se tornou a área devastada pela lama

Em volta de escavadeiras anfíbias, no meio dos rejeitos, bombeiros militares rastejam à procura de corpos ou sobreviventes. Do alto, entregando ferramentas e suprimentos, procurando sinais de atingidos e transportando vítimas, helicópteros da Polícia Militar de Minas Gerais integram uma esquadra de 17 aeronaves operando das 6h às 21h. Todo o complexo trabalho de resposta desde o rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, emana de decisões tomadas no Sistema de Comando de Operações montado na Faculdade Asa de Brumadinho.

Os três andares da instituição foram ocupados por forças e serviços públicos de todas as áreas de atuação e estruturas de esfera federal. Nas salas de coordenação, o Serviço Geológico do Brasil/Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) demarcou os 270 hectares devastados pela catástrofe. O mapeamento por satélite permitiu dividir a área de busca em 45 setores. “Todos os órgãos estão dedicados ao máximo para que tenhamos êxito. Faremos um planejamento de vários dias e a previsão é de que, ao longo do tempo, com a lama se estabilizando, mudemos as técnicas e possamos traçar um panorama mais realista. O Corpo de Bombeiros não descarta o encontro de pessoas com vida”, diz o chefe do Estado-Maior da corporação, coronel Erlon Dias do Nascimento Botelho.

O sistema é fundamental para ganhar tempo e com isso resgatar mais pessoas com vida, afirma o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador da Defesa Civil de Minas Gerais. “Todos os órgãos envolvidos na crise têm uma cadeira no centro e isso facilita tudo. Por exemplo, houve uma tempestade em que árvores desabaram sobre a rede elétrica. Como tínhamos gente da Cemig, a resolução foi mais rápida”, exemplifica.

 

Perímetros

Uma das primeiras corporações a assumir a área de resgates foi a Polícia Militar de Minas Gerais, o que permitiu o sucesso de várias operações de segurança, segundo o comandante-geral da corporação, Coronel Giovanne Silva. “Ajudamos a estabelecer os três perímetros de segurança: quente, morno e frio (do mais perigoso ao menos arriscado). Traçamos estratégias para remover a população e mantê-la afastada, até porque havia risco iminente de novos rompimentos. Quando a Vale informou que a barragem que restou no complexo estava com ameaça de rompimento, tivemos de evacuar quatro bairros de Brumadinho”, conta.

O primeiro piloto a chegar para a coordenação da operação Asas por Brumadinho foi o tenente-coronel Carlos Júnior, apenas uma hora e 40 minutos após o rompimento da Barragem B1. “Ajudamos a aglutinar os recursos das forças estaduais e federais. Numa catástrofe como essa, é fundamental lançar todos os nossos recursos e esforços nas primeiras 36 horas, para conseguir resgatar sobreviventes. Usamos inclusive óculos de visão noturna. Conseguimos resgatar pessoas em matas assim”, diz o oficial, com mais de 22 anos de aviação e 4,5 mil horas de voo.

A primeira força a impedir que, em meio ao desespero dos atingidos, houvesse saques criminosos foi a Polícia Militar Rodoviária (PRF). “Garantimos a segurança dos acessos aos pontos atingidos, mantivemos a segurança das comunidades, evitando focos de criminalidade, como saques a residências”, destaca o coronel Ledwan Salgado Cotta, do Policiamento de Trânsito.

 

Mais de 4,8 mil pousos e decolagens

Todas as aeronaves disponíveis foram acionadas, de acordo com o comandante do Comando de Aviação do Estado (Comave), coronel Rodrigo Sousa Rodrigues. “Pela característica do ambiente, não era possível o acesso por um terreno que não era exatamente nem líquido nem sólido. As aeronaves passaram a ser essenciais, por poderem pairar para transportar equipamentos e pessoal.” O Comave coordenou e executou mais de 4,8 mil pousos e decolagens, em mais de 500 horas de voo, até ontem.