Título: Jogos Olímpicos: o que esperar do Brasil em 2016?
Autor: Soares , Wilson Teixeira
Fonte: Correio Braziliense, 08/08/2012, Opinião, p. 15

O que esperar dos atletas brasileiros nos Jogos do Rio, em 2016? Os que não se ufanam desconfiam que pouco, como está ocorrendo em Londres. Encerrada a primeira semana de competições, o Brasil conquistou seis medalhas. Mas a aposta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é de que embolsará 15. Respeitado esse número mágico, ficou difícil para a delegação brasileira cumprir o vaticínio. Porque, ao ritmo de fração de medalha por dia, se os brasileiros não melhorarem a performance, talvez sejam conquistadas 12 medalhas.

É possível, no entanto, que o número chegue a 13. Talentos esportivos que sobrepujam dificuldades e se tornam campeões sempre aparecem. Em qualquer país. Não é uma especialidade brasileira, que, desde que o mundo é redondo (o mundo só se tornou redondo depois que Galileu provou a esfericidade do planeta; antes, para a humanidade, era plano), comemora sucessos episódicos, como os de Adhemar Ferreira da Silva.

No passado, o choro dos que dirigem as entidades de administração do esporte era de carência de recursos. Essa dificuldade, hoje, inexiste. Os cofres do COB estão cheios, fornidos pelas leis Piva e de Incentivo ao Esporte e por recursos de estatais. E quem se der ao trabalho de visitar a sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio, constatará que a entidade vive no Primeiro Mundo.

Por que, então, o Brasil não se torna uma potência esportiva? Talentos motores existem e cabedal científico está à disposição de quem queira investir com discernimento. A equipe inglesa Sky, de ciclismo, que deu ao inglês Bradley Wiggins o título de campeão do Tour de France deste ano, fez o dever de casa, e um britânico, pela primeira vez na história, ganhou a prova.

Burilar talentos motores requer mais do que as mesmas declarações de sempre de que o desempenho do Brasil nos Jogos recém-encerrados foi o melhor da história. Exige planejamento de longo prazo e o abandono do discurso fácil de que os brasileiros abiscoitaram muitos diplomas na qualidade de finalistas.

Descobrir talentos motores implica uma política esportiva de longo curso, avessa a favores e eternização nos cargos. E cumprir tal tarefa em apenas quatro anos é impossível. Investir na base seria a solução para o Brasil, em 2016, colher resultados dignos de uma potência olímpica? Sem dúvida. Tão importante quanto realizar investimentos regulares na base é democratizar o acesso de todas as crianças à prática do esporte %u2014 o que deveria ser uma prioridade para o Estado.

Para tanto, é imprescindível modificar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, estabelecendo a obrigatoriedade da prática esportiva até os 18 anos. Talentos que devem ser sujeito das necessárias condições para que possam evoluir. É um fato concreto, no entanto, que pedagogos inúmeros são avessos ao esporte de competição, por entenderem que estimular crianças a competir é instrumento contraproducente em termos educacionais.

O ser humano tem, no entanto, uma disposição natural para a competição. Junte-se um bando de crianças, divida-se o grupo em dois times de rua, bote-se uma bola de meia à disposição e o racha tem início. Quem jogou ao menos uma pelada na vida sabe que um time vai se esfolar para ganhar do outro. Sempre foi assim e sempre será.

No tempo histórico, os Jogos do Rio começarão %u201Camanhã%u201D. Novo ciclo olímpico não começará, porém, no momento em que for apagada a pira olímpica em Londres. Já teve início nos centros esportivos das grandes potências. Ao longo desse ciclo, ocorrerão os Jogos Panamericanos, em 2015. Como sempre, os brasileiros trarão muitas medalhas para casa, o que induzirá o torcedor a acreditar que nossos atletas escavarão minas de ouro em 2016.

Os que analisarem os resultados colhidos pelo Brasil em Londres e avaliarem os investimentos na descoberta de talentos motores, no esporte de base e na política de compadrio do COB na distribuição dos recursos que o Estado destina ao esporte não terão qualquer razão de otimismo. Um fato, contudo, é carta marcada: o discurso apologético, ainda que infundado, dos sempiternos dirigentes esportivos brasileiros prognosticará sucessos e vitórias retumbantes. Que, a exemplo de Londres, não acontecerão.