Correio braziliense, n. 20344, 01/02/2019. Mundo, p. 17

 

Maduro na mira da Europa

01/02/2019

 

 

Chefe diplomática do bloco cria grupo para articular contato entre o governo de Caracas e a oposição, mas o parlamento continental decide reconhecer Juan Guaidó como presidente interino e convoca os países-membros a seguirem seu passo

O Parlamento Europeu aprovou ontem uma resolução em que reconhece o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente legítimo (interino) da Venezuela e reforça o isolamento do governo de Nicolás Maduro. Aprovado por 439 votos contra 104, além de 88 abstenções, o texto exorta a União Europeia (UE) e os governos dos países-membros a fazerem o mesmo, “até que seja possível convocar novas eleições presidenciais livres, transparentes e críveis, para restaurar a democracia” no país sul-americano. Apesar da decisão dos eurodeputados, a chefe da diplomacia do bloco, Federica Mogherini, adiantou que não cabe à UE decidir sobre a legitimidade da presidência de Guaidó, mas sim a cada um dos países associados do bloco. Ela anunciou a criação de um “grupo de contato” de nações europeias e latino-americanas para trabalhar, durante o período de 90 dias, por uma saída para a crise venezuelana por meio de eleições.
“O objetivo desse grupo de contato internacional é claro: permitir aos venezuelanos que se expressem livre e democraticamente em novas eleições. Não se trata de mediar”, assegurou Mogherini, ao fim de uma reunião entre os chanceleres europeus na capital romena, Bucareste. O encontro discutiu “os próximos passos que os países-membros poderiam tomar, nos próximos dias, para coordenar as posições o máximo possível”, acrescentou. A alta representante para Política Externa adiantou que o bloco também considera a possibilidade de impor novas sanções contra pessoas ligadas ao regime venezuelano, mantendo a política de evitar represálias que possam agravar a situação humanitária.
A UE pretendia criar o Grupo e Contato em meados de fevereiro, mas decidiu antecipar a iniciativa, diante do acirramento da crise política nos últimos 10 dias, desde que Guaidó prestou juramento perante a Assembleia Nacional. Os governos europeus procuram “construir a confiança e criar condições para um processo credível” que conduza a eleições livres, explicou Mogherini. A duração inicial de 90 dias fixada para o trabalho do grupo de contato tem por objetivo evitar que ele seja usado por Maduro para “ganhar tempo”.
França, Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Suécia, Holanda e Reino Unido farão parte da articulação, pelo lado europeu. Equador, Costa Rica, Uruguai e Bolívia foram convidados a integrar a iniciativa. “Estamos aguardando a confirmação de alguns outros”, disse Mogherini. No último sábado, os governos de Espanha, França, Alemanha e Reino Unido, em pronunciamentos separados, deram prazo até o próximo domingo para que Maduro convoque eleições presidenciais livres — do contrário, passarão a reconhecer Guaidó como governante legítimo.
O bloco europeu também está sob pressão do Congresso norte-americano para que reconheça a autoridade do dirigente oposicionista. “É importante que a UE faça a coisa certa e se assegure de que será muito firme contra Maduro e a favor do governo interino”, disse o senador republicano Rick Scott, ex-governador da Flórida, estado que abriga uma grande comunidade de exilados venezuelanos. O pedido foi feito depois de representantes da maioria republicana (governista) e da oposição democrata se reunirem com emissários de Guaidó. “Continuaremos a pressionar Maduro, e ele se afastará para que tenhamos na Venezuela democracia, em vez de socialismo e de um ditador”, afirmopu Scott.