Correio braziliense, n. 20345, 02/02/2019. Política, p. 3

 

Como esperado, Maia leva na Câmara

02/02/2019

 

 

Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi reconduzido à Presidência de Câmara pela terceira vez consecutiva. Em longa sessão finalizada às 22h35, Maia recebeu apoio de 334 parlamentares, vencendo a eleição em primeiro turno. Na declaração após o resultado, negou qualquer conchavo com o Planalto e garantiu que a relação entre o Parlamento e o Executivo será baseada em muito diálogo. “Sempre tive uma boa relação com o presidente (Jair Bolsonaro). Manteremos sempre muito diálogo e (tentaremos fazer a) construção de pautas para tirar o Brasil da crise que vive”. Por outro lado, Maia aproveitou a oportunidade para alfinetar o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que teria trabalhado contra sua candidatura. “Não acredito que ele tentou interferir. Afinal, é tão competente. Um deputado sozinho não consegue derrotar o homem-forte do governo”.
O demista agradeceu primeiro a Deus e à família e se emocionou ao falar do pai, ex-deputado e ex-prefeito do Rio, Cesar Maia. Apoiado pela base governista, sinalizou que vai tentar incluir a oposição nos diálogos políticos. “Temos que ter todos aqui de todas as correntes partidárias para que essa pactuação sirva não apenas para união como para estados e municípios”, afirmou.  “Essa Casa precisa de modernização, modernização, modernização”, disse ele, reforçando a necessidade de reformas e da simplificação das leis.
Pelo Twitter, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou Rodrigo Maia, minimizando qualquer comentário sobre uma estremecida relação entre Executivo e Legislativo. Em suas palavras, o “cargo é de extrema responsabilidade” para “conduzir a votação de projetos que o brasileiro tanto almeja”, uma clara mensagem sobre a reforma da Previdência.

Outros cargos

Declarado o resultado, Maia ocupou a cadeira da Presidência para dar continuidade à solenidade, com a escolha de outros cargos. A única eleição que seguiu para segundo turno foi a da 2ª vice-presidência, entre Luciano Bivar (PSL-PE) e Charlles Evangelista (PSL-MG). Com 198 votos, Bivar foi eleito. Para os demais cargos da Mesa Diretora, foram eleitos Marcos Pereira (PRB-SP), como primeiro-vice-presidente da Casa; Soraya Santos (PR-RJ), primeira-secretária; Mário Heringer (PDT-MG), segundo-secretário; Fábio Faria (PSD-RN), terceiro-secretário; e André Fufuca (PP-MA), quarto-secretário.
Soraya desbancou o rival Giacobo (PR-PR), que ocupava a legislatura anterior, mas não era uma unanimidade entre os servidores e terceirizados da Casa — ele está sendo investigado pela Justiça Eleitoral por abuso do poder econômico e político; Mário Heringuer (PDT-MG), para 2º Secretário; Fábio Faria (PSD-RN) e André Fufuca (PP-MA), para 4º Secretário. Os suplentes de secretários são Assis Carvalho (PT-PI), Rafael Motta (PSB-RN), Isnaldo Bulhões JR (MDB-AL) e Geovana de Sá (PSDB-SC).

A disputa
Os sete deputados que disputaram a Presidência de Casa começaram a discursar no plenário às 18h20 para garantir o apoio dos colegas. Fábio Ramalho (MDB-MG), General Peternelli (PSL-SP), João Henrique Caldas (PSB-AL), Marcel Van Hattem (Novo-RS), Marcelo Freixo (PSol-RJ), Ricardo Barros) e Maia tiveram, cada um, 15 minutos para falar. Van Hattem, deputado de primeiro mandato por um partido que também estreia no Congresso, afirmou que a Câmara não deve delegar as prerrogativas a órgãos burocráticos. “Temos que voltar a sermos protagonistas”, disse. Marcelo Freixo veio na sequência, e falou em nome da democracia. “Formamos um bloco verdadeiramente de oposição ao governo nesta Casa. A Câmara precisa de um presidente que tem compromisso com a democracia”.
Maia usou o plenário para defender reformas e falar sobre o equilíbrio de contas públicas. “Se organizarmos as despesas, o Brasil vai ser o país que mais vai se desenvolver no mundo”, detalhou. Fábio Ramalho, que ocupou a primeira vice-presidência de Casa na última legislatura, defendeu a independência do Legislativo. “Se não reformarmos o Estado brasileiro, nem prefeitos nem governadores conseguirão mudar o país”.
Ex-ministro da Saúde, Ricardo Barros quase perdeu a voz enquanto discursava. Criticou a comissão dos parlamentares e abriu espaço para o Supremo Tribunal Federal (STF). “Temos que enfrentar os temas difíceis”. O deputado JCH disse ser o candidato de renovação. “Fiz campanha diferente, baseada em ideias”. Por fim, General Peternelli defendeu austeridade. “Temos que dar exemplo à população”.

Base domina as comissões
O bloco parlamentar que inclui o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, conseguiu isolar as esquerdas e vai comandar 15 das 25 comissões temáticas da Câmara, inclusive as poderosas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e de Finanças. Essa manobra articulada pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi além: o PT foi empurrado para comissões secundárias e ficará até mesmo sem a liderança das oposições.

A eleição
Total de votos    512
Rodrigo Maia (DEM-RJ)    334
Fábio Ramalho (MDB-MG)    66
Marcelo Freixo (Psol-RJ)    50
João Henrique Caldas (PSB-AL)    30
Marcel Van Hattem (Novo-RS)    23
Ricardo Barros (PP-PR)    4
Em branco    3
General Peternelli (PSL-SP)    2