O globo, n. 31228, 05/02/2019. País, p. 6
Médicos adiam alta hospitalar de Bolsonaro
Silvia Amorim
05/02/2019
Após acúmulo de líquido e leve elevação de temperatura, já controlada, presidente, que foi levado para unidade semi-intensiva, fará tratamento com antibióticos por uma semana; saída pode ocorrer na próxima segunda-feira
O presidente Jair Bolsonaro deve ficar, pelo menos, mais uma semana internado, segundo o porta-voz do governo, Otávio do Rêgo Barros. Ele só terá alta do Hospital Albert Einstein após encerrar um tratamento com antibióticos iniciado na noite de anteontem. Segundo boletim médico, exames identificaram acúmulo de líquido na região do intestino, o que levou à necessidade de uso de nova medicação. Bolsonaro teve uma leve elevação da temperatura, já controlada, e não sente dores. O presidente está na unidade semi-intensiva.
Bolsonaro passou no dia 28 por uma cirurgia para a retirada abolsa de colostomia implantada depois da facada que levou em setembro, durante atividade de campanha em Juiz de Fora (MG). A previsão inicial era que ele ficasse internado por dez dias, tendo alta amanhã. Se confirmada nova previsão, Bolso narop ode sair do hospital na próxima segunda-feira.
De acordo com o boletim médico, a temperatura corporal do presidente chegou a 37,3° C .“Foi iniciado antibioticoterapia de amplo espectro e realizados novos exames de imagem. Identificou-se uma coleção líquida ao lado do intestino na região da antiga colostomia”, explica o boletim do Hospital Albert Einstein.
— Obviamente que quarta-feira (amanhã) não será mais o dia de alta do presidente. Até porque ele entrou num estágio em que está sendo administrado antibióticos por, no mínimo, sete dias. Se tivermos que a partir de hoje contarmos um prazo, ele não será antes de sete dias, queéot empo de ação dos antibióticos — afirmou o porta-voz.
De acordo com boletim médico, o presidente teve elevação da temperatura no domingo, o que não é uma preocupação para a equipe médica neste momento. Por outro lado, seu intestino voltou a funcionar.
— O presidente foi submetido à punção e permanece com dreno. Está no momento sem dor, afebril, em jejum oral e com sonda nasogástrica. Já apresenta movimentos intestinais e teve dois episódios de evacuação —disse Barros.
Apesar do prorrogação do prazo para alta do presidente, o porta-voz mostrou otimismo em relação ao seu estado geral de saúde.
— O avião já está taxiando na pista. Os check-lists estão sendo realizados pelos pilotos, de forma que, quando ele decolar, ou seja, sair do hospital, ele tenha condições de alçar voo cruzeiro por quatro anos.
Bolsonaro foi submetido à punção guiada por ultrassonografia .“( O presidente) segue realizando exercícios respiratório sede fortalecimento muscular no quarto", diz o comunicado dos médicos do Hospital Albert Einstein.
Cuidados com a evolução
O cirurgião e gastroenterologista Eduardo Grecco afirmou que o acúmulo de líquido na região do abdome, onde ficava a bolsa de colostomia de Bolsonaro, deve ser interpretado, por ora, como um alerta.
Segundo ele, a secreção pode ser apenas resultado da manipulação cirúrgica no local e, portanto, nada grave. Mas, se a produção de líquido não diminuir nos próximos dias — Bolsonaro está com um dreno e será possível avaliar a quantidade de secreção —, poderá indicar um quadro que indica vazamento no intestino.
Neste caso, diz o médico, exames terão que ser feitos para detectar a região onde estaria havendo escape.
— Se foi algo próprio da cirurgia e parou, ótimo. Então não deverá sair mais líquido. O paciente fica uns cinco dias em observação. Agora pode acontecer de o líquido continuar saindo em volume acima do esperado e aí pode sinalizar escape —avaliou o médico.
Grecco disse que hoje não é possível dizer nem uma coisa nem outra.
— Os médicos fizeram o correto. Fizeram uma punção para a retirada do líquido e colocaram um dreno. Amanhã (hoje) já deverão ter uma ideia do que ocasionou o acúmulo de líquido a depender do volume presente no dreno.
Professor da Faculdade de Medicina do ABC, o cirurgião considerou o quadro geral de Bolsonaro bom. Segundo ele, o fato do presidente não ter apresentado dor nem febre alta — e o intestino dele ter voltado a funcionar —são sinais de recuperação.
O passo a passo da evolução da saúde do presidente
O atentado
Em 6 de setembro, Bolsonaro leva uma facada durante atividade da campanha na cidade de Juiz de Fora (MG). O então presidenciável é socorrido na Santa Casa da cidade e submetido a uma cirurgia às pressas. É constatado que a facada atingiu o intestino grosso e produziu três lesões no intestino delgado. Na ocasião, foi instalada uma bolsa de colostomia.
Transferência
No dia seguinte (7 de setembro), o então candidato é transferido de avião para o Hospital Alberto Einstein, em São Paulo. O seu quadro de saúde era considerado estável.
Nova cirurgia
Bolsonaro passa por um segunda cirurgia no dia 12 de setembro, dessa vez no Einstein. O procedimento foi necessário porque foi identificada uma aderência que obstruía o intestino delgado.
Alta
Mais de 20 dias depois de sofrer o atentado, o presidenciável recebe alta do Hospital Alberto Einstein, em São Paulo, em 29 de setembro, para concluir a a recuperação em sua casa no Rio de Janeiro.
Nova internação
No dia 27 de janeiro de 2019, Bolsonaro se interna novamente no Einstein para passar no dia seguinte por uma cirurgia para retirar a bolsa de colostomia que usava desde que levou a facada em setembro.
Alta adiada
Ontem, os médicos decidiram adiar a alta, prevista inicialmente para amanhã. Exames detectaram acúmulo de líquido no intestino e a necessidade de colocação de um dreno. Bolsonaro passou a fazer, no domingo, tratamento com antibióticos por um período de sete dias.