O Estado de São Paulo, n. 45754, 24/01/2019. Economia, p. B3

 

Bolsonaro cancela encontro com imprensa em Davos

Rolf Kuntz

24/01/2019

 

 

Presidente disse à emissora de TV que desistiu de entrevista coletiva por recomendação médica e por não ter novidades a apresentar

O presidente Jair Bolsonaro fugiu da imprensa e deixou 28 repórteres brasileiros e estrangeiros esperando numa sala preparada para a entrevista no Centro de Congressos de Davos, onde se realiza o encontro anual do Fórum Econômico Mundial. A mesa destinada aos entrevistados estava pronta e exibia placas com os nomes do presidente e dos ministros de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro. O evento estava marcado para 16 horas. Às 16h15 uma funcionária do Departamento de Comunicação do fórum foi à sala e anunciou oficialmente o cancelamento.

Os jornalistas já sabiam do fiasco. Seus colegas de plantão no hotel do presidente haviam passado informações sobre o recuo de Bolsonaro. Depois dos primeiros sinais de mudança dos planos, um assessor da Presidência, Tiago Pereira Gonçalves, confirmou a novidade aos profissionais concentrados no hotel. Segundo sua informação, o encontro foi cancelado por causa da “abordagem anti profissional da imprensa no Fórum”.

Em entrevista transmitida pela TV Record ontem à noite, Bolsonaro disse que cancelou a entrevista por recomendação médica, para que chegue descansado em São Paulo no domingo, para nova cirurgia. “Tendo em vista o que foi tratado de forma pública, não tínhamos novidade para apresentar à imprensa naquele momento.”

Na véspera, o presidente havia discursado numa sessão especial do Fórum Econômico. Programada para meia hora, a apresentação durou 15 minutos, tempo consumido com o discurso e com uma conversação conduzida pelo presidente da instituição, professor Klaus Schwab.

Bolsonaro aproveitaria outras oportunidades, como encontros com empresários, para melhorar a comunicação e reforçar os atrativos para investidores. As manobras incluíram a improvisada marcação de uma entrevista coletiva no dia seguinte, com participação de alguns ministros. O ministro da Economia, já envolvido em vários encontros – aparentemente satisfatórios – com empresários e autoridades, teria um papel especial na entrevista.

Antes do cancelamento já tinha havido alterações dos planos. Em vez de ocorrer na sala destinada às entrevistas, o evento seria realizado numa sala menor, usada para briefings especiais e dotada de serviço de tradução simultânea. Isso compensaria as dificuldades de Bolsonaro com o inglês. Além disso, o presidente apresentaria apenas um declaração, deixando aos ministros o jogo de perguntas e respostas.

Uma explicação extraoficial sobre o cancelamento indicou o receio de perguntas sobre o envolvimento do senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do presidente, com as movimentações financeiras de seu ex-assessor Fabrício Queiroz