Título: Bastos deixa defesa de bicheiro
Autor: Jeronimo , Josie
Fonte: Correio Braziliense, 01/08/2012, Política, p. 4

O escritório do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos informou ontem que não representa mais o bicheiro Carlinhos Cachoeira no inquérito originado por investigações da Operação Monte Carlo. O anúncio ocorreu dois dias antes do início do julgamento do mensalão, ação penal na qual Bastos representa ex-diretores do Banco Rural.

A advogada Dora Cavalcanti, responsável pela defesa de Cachoeira na audiência do processo contra Cachoeira realizada na Justiça Federal de Goiânia na semana passada, afirma que não houve atrito entre o escritório e a família do contraventor. Segundo Dora, os advogados já haviam anunciado que ficariam no caso até a audiência de instrução. "Nós estamos fazendo uma transição tranquila, combinada com a família, passada a audiência de Goiânia. Isso não procede (a suposta briga de Cachoeira com seus representantes)." A prisão da mulher do contraventor, Andressa Mendonça, por chantagear o juiz da 11ª Vara de Justiça Federal de Goiânia, Alderico Rocha Santos, teria sido o estopim para uma convivência que já não estava nada bem.

Advogados que já defenderam o bicheiro relataram ao Correio que a decisão de Thomaz Bastos de não aparecer na audiência em Goiânia contrariou Cachoeira. Ele esperava que o ex-ministro da Justiça fosse pessoalmente às duas sessões realizadas na capital de Goiás para impressionar o magistrado da 11ª Vara Federal. Mas cuidando que sua imagem não fosse registrada ao lado do contraventor às vésperas do julgamento do mensalão, Bastos teria optado por se preservar, confiando a tarefa a Dora e ao advogado Augusto Botelho. A ausência do ex-ministro da Justiça teria motivado discussão entre Cachoeira e os advogados do escritório.

Acertos quinzenais A dificuldade do contraventor em movimentar recursos para honrar o contrato milionário que tinha com o escritório também pesou na decisão dos representantes de Cachoeira em abandonar o caso. Monitorado pela Polícia Federal e pela Receita Federal, Cachoeira contava com a colaboração de aliados para fazer o pagamento dos serviços advocatícios. Pessoas próximas a ele informam que o montante de recursos direcionado ao pagamento dos advogados ficava entre R$ 300 mil e R$ 500 mil por quinzena, configurando um acerto parcelado, muito aquém dos R$ 15 milhões que supostamente foram acertados no contrato fechado para que Bastos assumisse a defesa do contraventor.

Advogados que acompanham o processo também informaram ao Correio que a polêmica de receber honorários de acusado de movimentar dinheiro da contravenção não deixava Bastos confortável. Além disso, a "perseguição" de outros advogados de Anápolis (GO) que já haviam representado Cachoeira em outras causas irritava a nova equipe. Os antigos representantes teriam repetido ao contraventor que, apesar do preço dos honorários e do peso do nome, o ex-ministro não conseguiu tirá-lo cadeia.