O globo, n. 31238, 15/02/2019. País, p. 7

 

Palocci confirma propina para campanha de Dilma

Aguirre Talento

15/02/2019

 

 

Em depoimento, ex-ministro relatou ter conhecimento que Joesley Batista abriu conta no exterior para depositar propina ao PT; valores depositados por empresário chegariam a US$ 150 milhões;

Conta aberta por Joesley Batista teria abastecido o caixa 2 da campanha de Dilma

Operador financeiro da campanha que elegeu Dilma Rousseff presidente, em 2010, o delator e ex-ministro dos governos petistas Antonio Palocci afirmou, em um depoimento inédito obtido pelo GLOBO, ter conhecimento de que o empresário Joesley Batista, dono da J&F, abriu uma conta no exterior para depositar a propina devida ao partido e acertada com o ex-ministro Guido Mantega, outro operador da campanha.

Palocci confirmou o relato da delação premiada de Joesley e disse que ele também lhe ofereceu a utilização da conta caso precisasse receber dinheiro no exterior. Segundo a delação de Joesley, contas abastecidas com US$ 150 milhões pelo grupo empresarial no exterior foram utilizadas pelo PT para comprar o apoio de aliados e financiar o caixa dois da eleição de Dilma.

“Posteriormente, Joesley teria aberto uma conta no exterior, onde depositava recursos políticos. (...) Joesley referiu que emprestava a conta para Guido e (João) Vaccari para que recebessem valores envolvendo acordos ilícitos do PT”, relatou o ex-ministro. Palocci afirmou ainda que, tempos depois de tomar conhecimento do tema, um outro empresário “lhe narrou ter depositado valores destinados ao PT nessa conta do Joesley no exterior”.

Preso em setembro de 2016, o ex-ministro firmou delação com a Polícia Federal em Curitiba e em Brasília. Pelo acordo, ele foi transferido para o regime domiciliar em novembro do ano passado. Palocci foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro a 12 anos e dois meses de prisão pelo então juiz Sergio Moro na Operação Lava-Jato.

Este novo depoimento é sigiloso e foi prestado nas investigações da Operação Bullish, que apura irregularidades em repasses do BNDES à JBS. Palocci foi ouvido em setembro do ano passado pelo procurador Ivan Cláudio Garcia Marx, da Procuradoria da República no Distrito Federal.

Ainda sobre a conta no exterior destinada ao PT, o exministro afirmou que foi oferecido “ao declarante o uso dessa conta, caso o declarante a necessitasse para receber algum valor de quem quer que fosse”. Disse, porém, que recusou a utilização da conta. Palocci prestou depoimento para as investigações da Operação Bullish, que mira irregularidades em financiamentos do BNDES para a JBS.

Apesar de Palocci já ter assinado acordo de delação premiada, os investigadores da Bullish não aderiram ao acordo —o que significa que o ex-ministro ainda pode ser denunciado por irregularidades no caso. Questionado, ele confirmou que tinha uma relação de amizade com Joesley, que incluía viajarem juntos com suas famílias. “No entanto, isso não lhe impede de dizer a verdade sobre o ocorrido”, disse.

O ex-ministro apareceu na investigação porque prestou consultoria à JBS, por meio de sua empresa Projeto, sobre um dos negócios da companhia, a aquisição de uma empresa norte-americana. Pal occi disseque prestou o serviço licitamente nesse caso e que desenvolveu estudos sobre o tema, mas que não foi solicitado a exercer influência no BNDES para a liberação dos recursos. Para isso, Joesley recorria ao próprio Guido Mantega, diz Palocci.

O ex-ministro afirma que não existia uma estrutura “corrupta” no BNDES nos mesmos moldes que foi montado na Petrobras. “O declarante nunca teve notícia da existência de uma estrutura corrupta no BNDES, ao estilo da Petrobras”, afirmou.

Procurada, a defesa de Guido Mantega afirmou que Palocci “copiou” a delação de Joesley e disse que o empresário já havia admitido às autoridades que era o dono formal da conta supostamente aberta para o PT.

— Palocci, sob pena até de responder por crime de calúnia, precisa indicar que conta é essa e que essa conta pertence ao Guido, porque se não isso configura um dos crimes da lei 12.850/2013, que é a pretexto de colaborar com a Justiça, acaba caluniando outras pessoas com objetivo só de conseguir benefícios penais — afirmou seu advogado, Fábio Tofic.

Já a ex-presidente Dilma Rousseff nega todas as acusações feitas por Palocci.