O globo, n. 31238, 15/02/2019. País, p. 8
Vale é ‘joia da coroa’, não pode ser condenada
Bruno Góes
15/02/2019
Para presidente da empresa, rompimento de barragem foi acidente; procurador diz que companhia sabia de problemas
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, afirmou ontem que a companhia não pode ser condenada pelo rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Para o executivo, a Vale é uma “joia brasileira” e não pode pagar pelo que classificou de “acidente”. O rompimento da barragem do Córrego do Feijão, no fim de janeiro, deixou 166 mortos e 155 desaparecidos.
— A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci da minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia —disse Schvartsman.
O executivo participou de sessão da Comissão Externa criada por parlamentares, na Câmara, para acompanhar os desdobramentos do caso . Ele afirmou que a empresa não sabe quais são as causas do rompimento da barragem.
—Continuamos sem saber os motivos que causaram o acidente. Todas as informações que nós possuíamos e que foram enviadas pelos técnicos demonstravam que não havia qualquer perigo iminente sobre aquela barragem e que não havia qualquer razão de alarme ou de preocupação maior da gestão da companhia. Se tivéssemos qualquer sinal relevante nessa direção, teríamos agido —afirmou.
"Não foi obra da natureza"
Parlamentares reagiram à fala do presidente da Vale, e acusaram a empresa de não dar o apoio devido às vítimas do desastre. Ao responder às perguntas, Schvartsman declarou que compartilhava a indignação de parlamentares. O presidente da Vale chegou a ser chamado de “bandido” e “assassino” pelo deputado André Janones (AvanteMG). Outros dois parlamentares disseram que Schvartsman tinha a “cara lavada” por argumentar que a Vale não deveria ser punida
Representando o Ministério Público, o procurador Antônio Sérgio Tonet afirmou que as causas do acidente ainda estão sendo apuradas, mas “já há elementos para indicar que esse rompimento não aconteceu por obra da natureza”. Ele sustentou que a Vale já sabia de alguns problemas na barragem e que havia preocupação da empresa em relação ao local.
Na audiência, Schvartsman disse ainda que a prioridade da empresa é cuidar e acelerar o atendimento às vítimas. Segundo ele, a intenção é “minimizar, se é que é possível, a dor dos atingidos”.
— A Vale está concedendo uma doação de R$ 100 mil para cada uma das famílias atingidas que têm vítimas. Outra doaçãodeR$50milparacada indivíduo que teve sua casa destruída, mais uma doação de R$ 15 mil para todas as pessoas impactadas. Não que achamos que resolva. São doações mesmo, em troca de nada. E as indenizações serão pagas —disse o executivo.
Durante sua exposição, o presidente da empresa ressaltou que a Vale possuía um laudo de estabilidade da barragem do Córrego do Feijão e que esse tipo de documento representa “a pedra fundamental de todo o sistema de mineração”.
Schvartsman destacou que o sistema operacional de barragens é descentralizado e funciona por “delegação”:
—Em Brumadinho, os gestores locais têm total autonomia quando avaliam risco.
O executivo da Vale informou que continua à frente da empresa enquanto tiver a confiança dos acionistas.