Título: Muitas promessas e poucas realizações
Autor: Tranches , Renata
Fonte: Correio Braziliense, 29/07/2012, Mundo, p. 20

Em meio às cobranças ligadas ao papel de liderança do Egito no Oriente Médio, o presidente, Muhamed Morsy, ligado à Irmandade Muçulmana, precisa colocar a casa em ordem e responder aos anseios de uma população que espera por transformação após anos de ditadura. Até agora, porém, sua missão parece longe de ser alcançada, como avaliou o cientista político egípcio Gamal Abdel Gawad Soltan, diretor do Centro Al-Ahram de Estudos Políticos e Estratégicos (Cairo). "Acho que ele não está tendo sucesso", disse.

Durante sua campanha, Morsy criou expectativas, ao anunciar um programa de 100 dias que levaria grandes mudanças ao país. "Ele prometeu muitas coisas nesse intervalo de tempo, mas já se foram 25 dias e ele nada entregou até agora", afirmou o veterano analista. "Está lhe faltando capacidade para isso", criticou. Gamal destacou o fato de Morsy ter demorado quatro semanas para anunciar um primeiro-ministro e iniciar a formação de seu governo. O premiê Hesham Qandil, então ministro de Recursos Aquíferos e Irrigação do governo de transição, foi designado na segunda-feira e deveria tornar público o novo gabinete ontem.

Enquanto administra o início do novo governo, Morsy fica na torcida para que a situação na região não se agrave. Uma instabilidade com os vizinhos palestinos e israelenses poderá lhe render problemas internos e obrigá-lo a apoiar os primeiros, por conta de sua ligação com o movimento islâmico, contrário a Israel. "Ele poderá ficar esprimido entre a necessidade de prover um governo efetivo, deliberando sobre questões econômicas e sociais, e a obrigação de agir para manter a paz na região, atendendo às demandas das alas mais radicais da Irmandade Muçulmana", explicou Soltan.

O professor destaca que a tarefa não é das mais fáceis. A região é instável, e muitos fatores, como o que ocorre na Síria e no Irã, poderão influir. "A violência poderia explodir no Oriente Médio a qualquer momento. Nessa situação, Morsy não será capaz de evitar uma tensão com Israel." (RT)