O globo, n. 31239, 16/02/2019. País, p. 12

 

Juiz quebra sigilo do escritório de Antonio Mariz, advogado de Temer

Ana Clara Costa

16/02/2019

 

 

Polícia Federal concluiu que ex-presidente teria cometido obstrução de Justiça para impedir que Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro revelassem corrupção na Caixa

O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Criminal de Brasília, autorizou a quebra de sigilo bancário do escritório do criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, assim como de 15 empresas do grupo J&F, entre elas a JBS, a Vigor e a JBJ Agropecuária. Mariz defende o ex-presidente Michel Temer. O pedido foi deferido em 15 de janeiro deste ano, e o afastamento de sigilo engloba o período de julho de 2016 a novembro de 2018, no caso da banca de Mariz, e de janeiro de 2008 a novembro de 2018, no caso das empresas dos irmãos Batista. Procurado, o advogado afirmou que não se pronunciaria por desconhecer o processo e as razões para a quebra de sigilo de seu escritório.

Além de advogar para Temer —de graça, segundo o próprio criminalista —Mariz atuou em casos de grande repercussão. Defendeu o jornalista Pimenta Neves, o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e Suzane Von Richthofen. Mariz também foi secretário de Segurança do Estado de São Paulo e presidiu a Ordem dos Advogados do Brasil em duas gestões.

Operação cui bono

O pedido de quebra de sigilo foi feito pelo Ministério Público Federal no âmbito da Operação Cui Bono, que investiga se o ex-presidente Michel Temer, cliente e amigo de Mariz, que teria avalizado a compra do silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro pelo empresário Joesley Batista. A conclusão da Polícia Federal, em seu relatório, foi a de que Temer teria praticado o crime de obstrução de Justiça para impedir que Cunha e Funaro revelassem o esquema de corrupção da Caixa Econômica Federal. A Procuradoria-Geral da República denunciou o ex-presidente por dar aval ao pagamento de propina a Cunha e Funaro em 2017, mas a denúncia foi barrada pela Câmara dos Deputados. A quebra de sigilo de Mariz não é a primeira entre as operações recentes de combate à corrupção. Em 2015, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a quebra de sigilos fiscal e bancário de dois escritórios de advocacia para apurar a origem dos honorários recebidos pela defesa de um deputado federal investigado pela Lava-Jato, João Pizzolatti (PP-SC). Em delação premiada, o doleiro Alberto Yousseff disse ter pago R$ 560 mil com dinheiro da empreiteira Queiroz Galvão para custear os honorários dos advogados de Pizzolatti.