O Estado de São Paulo, n. 45745, 15/01/2019. Política, p. A6

 

Bolsonaro nomeia general como porta-voz

Leonencio Nossa e Tânia Monteiro

15/01/2019

 

 

Otávio do Rêgo Barros já passou pela área de comunicação do Exército; outros seis militares são anunciados para cargos estratégicos do governo

O general de divisão Otávio Santana do Rêgo Barros, de 58 anos, será o porta-voz do Palácio do Planalto. A escolha do presidente Jair Bolsonaro levou em conta o trabalho desenvolvido pelo oficial no Exército de uso das redes sociais como instrumento político e de comunicação.

A nomeação de Rêgo Barros reforça a lista de militares em postos importantes do governo, além dos sete oriundos das Forças Armadas ou da Academia Militar que viraram ministro. Só ontem mais sete militares foram indicados para cargos estratégicos. Entre eles, o general Franklimberg Ribeiro de Freitas, para a Funai, e o deputado eleito Major Vitor Hugo, que será o novo líder do governo na Câmara (mais informações nesta página).

Pernambucano do Recife, Rêgo Barros chega ao Planalto no momento em que o governo patina na área da comunicação. Desde a posse, Bolsonaro e seus ministros protagonizaram polêmicos recuos de informações. O governo tentou diversos nomes de civis para o cargo, mas os preferidos recusaram, especialmente devido à remuneração no serviço público.

Auxiliares de Bolsonaro dizem que o posto de Rêgo Barros não se limitará ao trabalho tradicional de outros porta-vozes, a maioria formada por diplomatas, de reportar informações sucintas da Presidência. O general atuará também como um assessor graduado de imprensa.

Na chefia da assessoria de comunicação do general Eduardo Villas Bôas, que comandou o Exército até a semana passada, Rêgo Barros aproximou a instituição das redes sociais. Foi pelo Twitter que Villas Bôas deu declarações que repercutiram na caserna e na política. Às vésperas do julgamento do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal, em abril, Villas Bôas escreveu para “repudiar” a impunidade e cobrar respeito à Constituição.

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Ex-presidente da Funai volta a chefiar órgão

André Borges

15/01/2019

 

 

Franklimberg de Freitas ocupou presidência até abril de 2018, quando deixou posto por pressão da bancada ruralista

O general Franklimberg Ribeiro de Freitas vai assumir novamente a presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) no lugar de Wallace Bastos, que pediu exoneração do cargo ontem à tarde. A escolha do general foi feita pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ao qual a Funai está vinculada.

O general deixou a presidência da Funai em 19 de abril do ano passado, onde estava desde janeiro de 2017. Na época, o então presidente Michel Temer recebeu reivindicação de parlamentares ligados à bancada ruralista pedindo a sua saída. A queixa era que Franklimberg não colaborava com o setor no processo de demarcação de terras indígenas.

Procurada ontem, a Frente Parlamentar da Agropecuária informou que não iria se manifestar sobre a indicação de Franklimberg para a Funai.

O órgão foi transferido do Ministério da Justiça para a pasta de Damares e os processos de demarcação de terras indígenas deixaram de ser responsabilidade da Funai – agora são atribuição da Secretaria de Assuntos Fundiários, vinculada ao Ministério da Agricultura.

Franklinberg disse que volta à Funai com a promessa de tocar o órgão sem ingerências políticas. “Como conversei com a ministra Damares, vou ter a oportunidade de escolher o pessoal que vai trabalhar comigo. Esse é um grande diferencial em relação à situação anterior”, afirmou. “A Funai vai melhorar. Estamos sempre pensando em formas de apoiar a causa indígena. E esse será o foco de nossa gestão.” O general decidiu trocar toda a diretoria do órgão.

Ao Estado, a ministra disse que a escolha de Franklimberg levou em conta sua experiência na área. “Queremos dar uma atenção especial aos índios de áreas de fronteira. O presidente quer que o Estado fale diretamente com essas pessoas. E o general Franklimberg conhece a Amazônia como ninguém. Ele é de origem indígena, é muito querido pelos índios”, afirmou Damares.

Doutor em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado Maior do Exército, Franklimberg é general de brigada e assessor de relações institucionais do Comando Militar da Amazônia. Como oficial general, comandou a 1.ª Brigada de Infantaria de Selva em Roraima e foi chefe do Centro de Operações do Comando Militar da Amazônia.

O presidente Jair Bolsonaro já afirmou que não vai declarar “nenhum centímetro de terra indígena” em seu governo e promete rever, inclusive, processos de terras indígenas que já foram homologadas. Em outra frente, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também pretende abrir as terras indígenas para acordos entre indígenas e ruralistas interessados em explorar as terras, o que hoje é proibido por lei.

'Diferencial'

“Vou ter a oportunidade de escolher o pessoal que vai trabalhar comigo. Esse é um grande diferencial em relação à situação anterior.”

Franklimberg de Freitas​, NOVO PRESIDENTE DA FUNAI