O globo, n. 31232, 09/02/2019. Economia, p. 17

 

Estatais são como ‘filhos drogados’, diz Guedes

Ramona Ordoñez

Daiane Costa

09/02/2019

 

 

Ministro usa comparação para ressaltar necessidade de privatização de empresas públicas. Secretário de Desestatização afirma que muitas são deficitárias e defende maior participação do setor privado

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que as estatais brasileiras são como “filhos drogados que fogem dos pais”, em alusão ao seu plano de desestatização de empresas brasileiras. A declaração foi dada durante evento sobre o setor elétrico, na sede do BNDES. Guedes explicou que usa essa comparação quando defende a venda de todas as estatais, e o presidente Jair Bolsonaro e militares manifestam desejo de manter algumas: — Falava que tinha de vender todas, mas, naturalmente, o nosso presidente, os nossos militares olham para algumas delas com carinho, como filhos, porque foram eles que as criaram. Mas digo, olha que seus filhos fugiram e hoje estão drogados. O secretário de Desestatização, Salim Mattar, já havia afirmado que o governo não pretende se desfazer de Petrobras, Caixa e Banco do Brasil. Ontem, Mattar classificou parte das estatais no país como “aberração”. Segundo ele, empresas públicas deficitárias custam R$ 15 bilhões por ano ao Tesouro, em recursos que poderiam ser investidos em outras áreas. E disse que o governo não vai mais “financiar empresários”:

—Os recursos são escassos e devem ser aplicados na saúde e segurança. Queremos uma iniciativa privada forte, que tem de buscar recursos lá fora. Não como no passado, buscando recursos junto a esta instituição (BNDES). Guedes destacou que o BNDES terá papel transformador no processo de privatização, ressaltando que o setor privado gera melhores recursos, “sem interferências políticas, corrupção e sem alimentar a velha política”: — Em vez de o governo federal investir, agora são os estados e municípios que atuarão em saúde, educação e segurança pública. No Brasil, você não sente o Estado. Ele não chega aonde o povo vive. Já o presidente do BNDES, Joaquim Levy, disse que a venda de ativos busca uma mudança real na economia, não apenas a redução de dívidas. Ele citou como exemplo a venda de seis distribuidoras de energia da Eletrobras nas regiões Norte e Nordeste. A operação permitiu reduzir as dívidas em R$ 9,3 bilhões e deve proporcionar investimentos nas companhias de R$ 6,7 bilhões, com melhoria da qualidade da prestação do serviço.

Eletrobrás: só em 2020

A privatização da própria Eletrobras, no entanto, só deve ocorrer no início de 2020. A previsão foi feita pelo presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior, no mesmo evento. Ele explicou que o modelo de capitalização a ser adotado deve estar concluído até o fim deste mês. Será preciso, então, resolver questões pendentes no setor energético, para depois dar início ao processo, que, segundo Ferreira, demora em torno de nove meses. O secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Adalberto Vasconcelos, disse que o governo pretende leiloar, em março, 24 projetos, como portos, aeroportos e a Ferrovia Norte-Sul.