Título: Lei do silêncio no Planalto
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Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2012, Política, p. 4
O silêncio do Palácio do Planalto sobre o mensalão foi acertado há um mês, em conversas informais da presidente Dilma Rousseff com os ministros mais próximos. Ficou definido que os integrantes do governo federal não se manifestariam durante o julgamento do caso pelos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nem mesmo o fato de o PT, principal partido da coalizão governista e ao qual Dilma é filiada, ter diversos caciques envolvidos no processo, comove o staff presidencial. "A orientação da presidente Dilma é que o governo não pare, não faça nenhum tipo de ação que não seja voltada para que a máquina siga funcionando", ressaltou o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho.
Segundo uma pessoa próxima à presidente, o governo "não ganha nada atravessando essa praça", numa metáfora sobre a distância que separa o Palácio do Planalto do Supremo Tribunal Federal. Gilberto Carvalho confirmou que o trabalho agora está nas mãos do STF. "O Judiciário vai fazer a parte dele. Nós temos confiança no poder Judiciário e seguiremos trabalhando", completou. Sobre o assunto, destacou Gilberto Carvalho, quem fala é o PT.
Fatores conjunturais e políticos reforçaram a convicção da presidente Dilma Rousseff. Ela está preocupada com o agravamento da crise econômica internacional e com as quedas nos níveis de emprego e da produção industrial no Brasil. Todo o esforço é para retomar o mais rapidamente o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) — que deve ficar abaixo dos 3% em 2012. A economia desaquecida poderá ter reflexos desastrosos na reeleição em 2014.
Politicamente, a situação da presidente é mais confortável. "Nós somos o Planalto pós-mensalão e pós-caseiro (Francenildo)", disse um aliado de Dilma, numa referência aos dois escândalos que derrubaram os principais sucessores de Luiz Inácio Lula da Silva na hierarquia petista — José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil) e Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda). Esse Planalto pós-mensalão teria sido o responsável pelo sucesso do segundo governo de Lula, que encerrou os quatro anos com quase 90% de aprovação popular.
Debate interno Em 2007, foi lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que catapultou a candidatura presidencial de Dilma. "Lula simpatizava muito com o Patrus Ananias (ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e com o Fernando Haddad (ex-ministro da Educação). Mas Dilma ganhou o debate interno no governo pela sua eficiência e credenciou-se para ser a ungida do presidente", lembra um aliado.
Além disso, Dilma acredita que qualquer comentário feito por algum integrante do governo, neste momento, seria interpretado como uma "tentativa de pressionar os ministros do STF". Os governistas ainda têm vivo na memória a famosa reunião de Lula com o ministro do STF, Gilmar Mendes, no escritório do ex-presidente do Supremo Nelson Jobim. "O mensalão está em debate no Judiciário. Por que nós vamos escorregar nessa casca de banana?", questionou um aliado do governo. (Paulo de Tarso Lyra e Juliana Braga)
"Peça de marketing político" O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), criticou o período escolhido pelo STF para julgar a ação penal nº 470 por acreditar que o resultado poderá afetar as eleições. Em nota divulgada ontem, Tatto considerou o mensalão uma "peça de marketing político", uma "farsa criada e alimentada por setores conservadores" e ainda uma "aberração total do ponto de vista dos direitos individuais". O líder também manifestou solidariedade aos petistas que são réus no processo. "Procura-se criar um clima de caça às bruxas contra o PT, mantendo uma pressão indevida para que os ministros do STF ajam de acordo com a vontade de uma elite que gostaria de ganhar no tapetão as eleições no país", argumentou.