O globo, n. 31231, 08/02/2019. País, p. 6

 

MDB do Senado abandona Renan e negocia cargos.

Amanda Almeida

08/02/2019

 

 

Já o PSDB na Casa está dividido sobre possível aliança com o PSL de Bolsonaro; novatos temem comprometer independência

Derrotado na disputa pela Presidência do Senado, Renan Calheiros (MDBAL) amarga, agora, um segundo revés: o abandono do próprio partido. Os 12 colegas viraram a página e se articulam para garantir as sobras de cargos e evitar que o MDB seja varridos completamente do mapa do poder.

Para assegurar o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais disputada, a legenda aceitou a imposição do grupo do novo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e vai indicar ao posto a senadora Simone Tebet (MDB-MS), adversária de Renan na disputa pela presidência do Senado. A escolha deve ser sacramentada na semana que vem.

Renan decidiu submergir esta semana. No último domingo, dia seguinte à disputa pela Presidência do Senado, cargo que tentava ocupar pela quinta vez em 40 anos de vida pública, ele viajou para Alagoas.

O MDB pleiteava dois cargos na Mesa Diretora, sendo um deles a primeira secretaria ou a vice-presidência, que têm maior prestígio. Mesmo assim, o líder do partido, senador Eduardo Braga (AM), aliado de Renan na disputa contra Tebet, agradeceu em plenário pela forma que Alcolumbre conduziu as negociações que levaram a legenda à menos importante segunda secretaria. Para o cargo, o partido indicou Eduardo Gomes (TO), também do grupo de Renan.

A inversão de rumo foi conduzida pelo presidente do MDB, Romero Jucá. À bancada, ele defendeu que é hora de o partido “baixar a bola”e entender que, se não cedesse ao grupo vencedor, ficaria sem espaço no Senado.

PSDB no divã

Além da CCJ, foi prometido ao partido o comando da Comissão Mista de Orçamento. Há ainda conversas sobre a liderança do governo, para a qual é cotado o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Enquanto a preocupação do MDB é não ficar isolado, o PSDB está dividido sobre uma possível aliança com o PSL do presidente Jair Bolsonaro no Senado.

Com oito senadores, os tucanos já acertaram formar um bloco com o Podemos, que tem uma bancada do mesmo tamanho. Líderes dos dois partidos defendem agregar o PSL, que tem quatro senadores, mas parte dos tucanos se manifestou contra, alegando que não querem ser carimbados como governistas.

A resistência parte de senadores novatos e foi demonstrada na reunião da bancada na última terça-feira. No encontro, eles pontuaram que foram eleitos com a bandeira da “independência”.

Senadores mais experientes, como Tasso Jereissati (PSDB-CE), pontuaram que o bloco com o PSL não significa alinhamento automático ao governo. Foi rebatido com o argumento de que a população não entende dessa forma.

O estreante Plínio Valério (PSDB-AM) é um dos contrários à aliança:

— Coligar com o PSL é carimbar apoio ao governo como base. Vou apoiar as propostas enviadas pelo presidente Jair Bolsonaro sempre que for bom para a República.

Quanto mais numeroso for um bloco partidário, mais espaço e capital político garantem as legendas na Casa.