O Estado de São Paulo, n. 45857, 07/05/2019. Economia, p. B5

 

Tabata contraria PDT e apoia reforma

Idiana Tomazelli

07/05/2019

 

 

Em oposição ao próprio partido, contrário à proposta, deputada defende mudanças na Previdência que, segundo ela, perpetua desigualdades

 

 

Critica. Da periferia de SP e formada em Harvard, Tabata critica ‘debate raso’ da reforma

Integrante de um partido de oposição ao governo Jair Bolsonaro, a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) ganhou os holofotes ao contrariar o próprio partido e defender publicamente a necessidade de uma reforma da Previdência. Autodeclarada progressista, ela afirmou ao ‘Estadão/Broadcast’ que sente “uma tristeza muito grande” ao ver deputados e partidos se posicionarem contra a reforma. Um deles é o próprio PDT, que fechou questão contra a proposta. “Eu não consigo entender. Quem é progressista, quem tem a luta social como algo do sangue mesmo, como que essas pessoas não se posicionam contra a desigualdade que é perpetuada pela Previdência?”, disse.

Embora não esteja na Comissão Especial que analisará a partir de hoje o texto da reforma no Congresso, ela disse que trabalhará para esclarecer parlamentares e população sobre pontos bons e ruins da proposta.

Tabata fez críticas, por exemplo, às mudanças apresentadas pelo governo no benefício assistencial para idosos de baixa renda, o BPC, na aposentadoria rural, na aposentadoria de professores (cuja maior crítica da parlamentar é a ausência de uma valorização da carreira, a exemplo da proposta dos militares) e à falta de detalhes sobre o regime de capitalização que o governo quer criar para que os futuros trabalhadores tenham uma espécie de poupança individual para a aposentadoria.

Por outro lado, disse que o Congresso não pode se furtar diante da grave situação da Previdência, que deve ter um rombo superior a R$ 300 bilhões neste ano, considerando INSS e regime de servidores federais.

Para ela, a discussão sobre uma idade mínima, as alíquotas progressivas (que aumentam quanto maior é a renda do trabalhador) e o combate a privilégios nas aposentadorias de servidores vão na direção certa.

Eleição. Ao admitir méritos na proposta, Tabata se coloca em um campo distinto ao do deputado Paulinho da Força (SDSP), que descartou votar em proposta capaz de reeleger Bolsonaro. Ela classificou como “lamentável” colocar o cenário eleitoral como variável. “Espero que os deputados entendam o quão grave é a gente aprovar uma proposta injusta e o quão grave é não aprovar nenhuma proposta”, disse.

Tabata é deputada de primeiro mandato e uma das fundadoras do Movimento Acredito, que pretende formar nova geração de lideranças políticas. Nascida na periferia de São Paulo, formou-se em Harvard, prestigiosa universidade americana. Foi a sexta deputada mais votada de São Paulo em 2018.

Já no Congresso, chamou a atenção ao travar duro debate com o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez, criticando a falta de dados na audiência. E vem sendo alvo de críticas tanto da esquerda quanto da direita por não se denominar em nenhum dos campos e divergir com lideranças desses dois polos.

Embora sua principal bandeira seja a educação, ela disse que vem há dois anos estudando o tema da Previdência e critica o “debate raso”. “Nossa Previdência leva dinheiro de quem tem menos para quem tem mais, perpetua desigualdades. Essa é a minha discordância com a esquerda”, disse.

A falta de profundidade nas discussões também atinge, em sua visão, a trincheira dos governistas. Para ela, esses parlamentares aceitam medidas que podem ser injustas com trabalhadores para garantir a economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos pretendida pelo governo.

Tabata já apresentou seis emendas sugerindo mudanças no texto e pretende apresentar outras três: “Não posso esperar de braços cruzados”.

'Desigualdades'

“Nossa Previdência leva dinheiro de quem tem menos para quem tem mais, perpetua desigualdades.”

Tabata Amaral​, DEPUTADA PDT-SP