Título: Faxineiras da Corte cobram condenação
Autor: Kleber , Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 02/08/2012, Política, p. 9

Ela contabiliza como tempo de serviço no Supremo Tribunal Federal (STF) quase a mesma duração da espera, pela sociedade, do julgamento do mensalão, considerando que denúncia foi oferecida pela Procuradoria Geral da República ao em 30 de março de 2006. Maria Edivania Oliveira limpa, todos os dias, o plenário da mais alta Corte do país com a colega Rosa Maria da Silva. Elas são as únicas responsáveis pela limpeza do local onde são julgados os processos mais importantes do país. Fora elas, apenas outros dois homens têm autorização para fazer a limpeza, e apenas do carpete.

Simples e alegres, elas têm uma convicção: os réus do mensalão devem pagar pelo que "fizeram ao povo", mas têm dúvidas de que isso irá realmente ocorrer ao fim do julgamento. "Eles roubaram da gente. Gente pobre quando rouba é presa. Os poderosos também têm de ser", afirma Maria, mãe de dois homens e avó de cinco netos. Moradora do Paranoá, ela pega ônibus todas as madrugadas para ir de casa ao trabalho. Às 6h30, Maria já está no Supremo para bater o ponto eletrônico e iniciar a limpeza. Só deixa o tribunal às 16h30.

O mesmo ocorre com sua parceira, que tem menos tempo de casa. Rosa, moradora de São Sebastião, deixa os três filhos em casa antes das 6h para chegar ao trabalho. Hoje, será a mesma rotina, só que diante de algo bem maior. "Já está um tumulto danado aqui por causa do julgamento do mensalão. Teremos mais trabalho, claro. Mas acho que, no fim, infelizmente, não vai haver punição (para os acusados)", diz.

Além do plenário, Maria e Rosa fazem a limpeza da sala de lanche, onde os ministros se alimentam quando há sessões, e o salão branco, também ao lado do plenário e cheio de móveis confortáveis nos quais as pessoas se sentam e conversam. Maria explica que certos produtos não podem ser utilizados na limpeza para não manchar os objetos e móveis. Ela usa sabão neutro. O material de trabalho inclui flanela, água, bucha e lustra móveis para os objetos de madeira. Há também uma regra vital no expediente: elas só podem entrar no plenário durante a sessão se forem chamadas pelos chefes. "Do tempo que eu estou aqui, me lembro só de uma vez que me pediram para limpar um copo d"água que caiu. No mais, aguardamos para fazer o nosso serviço", conta.

A segurança no Supremo está sendo reforçada desde o começo da semana. Homens e mulheres com rádios, espalhados pela Praça dos Três Poderes, estacionamentos e anexos, fazem a proteção do prédio. O estacionamento ganhou nova sinalização e grades de proteção contra pedestres foram instaladas em volta do STF.