O globo, n. 31226, 03/02/2019. País, p. 6

 

Quem é o senador que derrotou Renan Calheiros na briga pela presidência

Jailton de Carvalho

Amanda Almeida

03/02/2019

 

 

Perfil Davi Alcolumbre/senador (DEM-AP)

Parlamentar sobreviveu a investigações sobre suposta ligação com doleiro e derrotou cacique do MDB nas eleições para o Senado em 2014

O crescimento da candidatura do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) sobre o até recentemente todo poderoso Renan Calheiros (MDBAL) foi considerada surpreendente por muitos analistas e até experientes colegas da casa. Ontem, ele venceu a disputa pelo comando do Senado, após Renan ter retirado a candidatura. Mas esta não foi a primeira vez que Alcolumbre colocou em dificuldades um cacique do MDB.

Nas eleições para o Senado, em 2014, ele também provocou surpresa ao derrotar o exsenador Gilvam Borges. Um dos mandachuvas do MDB, Borges contava à época com o apoio do ex-presidente José Sarney, um dos políticos mais influentes do país.

Com 41 anos de idade, Alcolumbre é um dos mais jovens senadores em atividade. A trajetória política do senador do Amapá não sofreu avarias nem mesmo depois que ele entrou no radar da Operação Miquéias, da Polícia Federal. Em

2013, Alcolumbre, então deputado federal, foi investigado por supostas ligações com o doleiro Fayed Trabouli, em escândalo sobre desvios de dinheiro de fundos de pensão. Quando as informações sobre os supostos vínculos dele com o doleiro vieram à tona, Alcolumbre confirmou, ao GLOBO, que manteve algumas conversas com Fayed. Os dois tinham sido apresentados um ao outro no cafezinho da Câmara. O senador negou, no entanto, que tenha tratado de

assuntos financeiros. —Falamos sobre política e economia. Falei das forças políticas do meu estado. Ele me perguntou se Sarney era bom para o Amapá, porque ele não é de lá — disse Alcolumbre, na época.

Investigação barrada

As investigações da Operação Miquéias foram barradas no Supremo Tribunal Federal (STF). Relator do caso, o ministro Marco Aurélio decidiu anular interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal no período. Sem os embaraços da investigação, Alcolumbre se candidatou ao Senado no ano seguinte, 2014, e derrotou Gilvam Borges. Ano passado, o senador ficou em terceiro lugar na eleição ao governo do Amapá. Coma derrota, voltou ao Senado—está na metade do mandato de oito anos—epas sou a buscar um cargo mais alto. Com o apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), Alcolumbre decidiu disputar com Renan a presidência do Senado.

O apoio do ministro provocou fissuras no governo e forçou Lorenzoni a sair da linha de frente da disputa. Na sessão de ontem, o senador do DEM acabou beneficiado pelo movimento de senadores que não querem a volta de Renan à presidência do Senado. Segundo um senador, Renan é muito bem relacionado entre os pares. Mas tem uma imagem desgastada na opinião pública. Alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o senador de Alagoas seria visto por muitos como um dos representantes da velha política, duramente criticada em manifestações de rua nos últimos anos. Ele iniciou carreira política em 2000, quando se elegeu vereador de Macapá. Dois anos depois, foi eleito deputado federal — após três mandatos, tornou-se senador em 2014. Alcolumbre tem posições políticas flexíveis. Ele está no DEM, mas já foi do PDT. Em eleições passadas, se aliou a políticos de vários partidos, entre eles o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerado um dos expoentes da esquerda no Senado, eque ontem declarou voto no aliado.