O globo, n. 31225, 02/02/2019. País, p. 6

 

Maia é eleito presidente da Câmara pela terceira vez

Bruno Góes

Bela Megale

Eduardo Bresciani

Mateus Coutinho

02/02/2019

 

 

Com apoio do PSL e de alguns partidos de esquerda, deputado do DEM venceu no primeiro turno com 334 votos

Depois de uma longa jornada de negociações e acordos de bastidores, iniciados antes mesmo da eleição de 2018, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi reconduzido ontem à presidência da Câmara dos Deputados. Em vitória contundente, Maia conseguiu se eleger no primeiro turno, com 334 votos. Alinhado à pauta do superministro da Economia, Paulo Guedes, conseguiu formar uma ampla aliança. Conjugou o apoio de deputados do PSL, integrantes de uma bancada inexperiente e ainda sem trato político, com partidos de esquerda, como PDT e PCdoB. Entre os dois polos, conseguiu ainda reunir mais 13 partidos de centro. Os demais candidatos não conseguiram chegar nem perto da votação de Maia. Às 21h26, o placar da Câmara dos Deputados marcava 66 votos para Fábio Ramalho (MDB-MG), 50 para Marcelo Freixo (PSOL-RJ), 30 para João Henrique Caldas (PSB-AL), 23 para Marcel van Hattem (Novo-RS), quatro para Ricardo Barros (PP-PR) e dois para Sargento Peternelli (PSL-SP). Antes de os deputados irem às urnas, Maia foi o mais aplaudido entre candidatos que discursaram — interrompido cinco vezes pelas palmas. No plenário, ele focou sua fala de candidato na defesa das reformas econômicas. Afirmou que o Estado brasileiro perdeu capacidade de investimento e que é preciso enfrentar o tema para permitir melhorias em outras áreas.

— As reformas não são simples, mas são necessárias. Visitei quase todos os estados brasileiros, visitei deputados, deputadas, prefeitos governadores, todos eles, do PT ao DEM, me pediram uma coisa: se não aprovarmos essas reformas, todos os estados e municípios chegarão ao ponto que chegou Minas Gerais, onde os bombeiros trabalham naquela tragédia (a de Brumadinho) sem receber salários —afirmou Maia.

Desistência

O passo decisivo para a vitória de Maia foi dado na semana passada, quando o líder do PP, Arthur Lira, abandonou a disputa e enterrou a possibilidade de um bloco formado por PP, MDB, PTB, PT e PSB. Esse bloco esperava atrair outros dois partidos de centro-esquerda, PCdoB e PDT, para abocanhar mais cargos na Mesa e enfraquecer o atual presidente da Câmara. A intervenção de Maia foi decisiva. Manteve comunistas e pedetistas sob sua órbita. A articulação desembocaria em um agravamento da crise na esquerda. Ontem, a situação chegou ao plenário, com acusações entre PSOL e PCdoB. Tudo por que a formação dos blocos para a disputa da Mesa prejudicou PT, PSB, PSOL e Rede. Isolados, ficaram apenas com o terceiro maior grupo. Já PCdoB e PDT, com acordo firmado com partidos do centrão, ficaram a segunda posição. Isso poderá lhes dar o direito de liderar a oposição.

— O PT quer tutelar o PCdoB. E, dessa vez, não! Estão usando o PSOL e o PSB, com todo o respeito — discursou Orlando Silva, líder do PCdoB.

Desvinculação do PT

Desde o fim da campanha eleitoral de 2018, o PDT tenta se desvincular do PT para ser uma alternativa de poder para esquerda. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) afirma que como há partidos aliados ao governo no bloco formado por PDT e PCdoB, esse grupo não poderá indicar o líder da minoria. — O regimento é claro: a minoria compete ao grupo de partidos de oposição ao governo. Esse bloco que o PC do B e o PDT está tem alguns partidos do governo. Então, a vaga da minoria deve caber ao maior partido do bloco da oposição, que é o PT. E nós podemos indicar de outro partido da oposição, como PSB, PSOL e Rede —afirmou Zarattini. Questionado qual seria a reação caso Rodrigo Maia (DEM-RJ) dê a vaga para o bloco com PDT e PC do B, Zarattini evitou comentar a hipótese.

— Se ele fizer isso, aí é esmagar o direito da oposição porque vai dar a minoria para partidos que estão com o governo. Ele não vai fazer isso em hipótese nenhuma — afirmou o deputado petista. Antes disso, Maia foi tirando os adversários aos poucos. Sob pressão de Valdemar Costa Neto, chefe do PR, o deputado Capitão Augusto (PR-SP) desistiu da corrida ao comando da Casa. Antes, João Campos (PRB-SP), que contava com simpatia de parte da bancada do PSL, o partido do governo, também saiu da disputa. Para a Mesa da Câmara, foram eleitos: primero vicepresidente, Marcos Pereira (PRB-SP); primeira secretaria, Soraya Santos (PRRJ); segunda secretaria, Mário Heringer (PDTMG); terceira secretaria, Fábio Faria (PSD-RN); quarta secretaria, André Fufuca (PP-MA). Ainda haverá segundo turno para a segunda vice-presidência, com disputa entre Luciano Bivar (PSL-PE) Charles Evangelista (PSL-MG).

“As reformas não são simples, mas são necessárias. Se não aprovarmos essas reformas, todos os estados e municípios chegarão ao ponto que chegou Minas Gerais, onde os bombeiros trabalham naquela tragédia (a de Brumadinho) sem receber salários”

Rodrigo Maia, reeleito ontem presidente da Câmara

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Casa tem a maior renovação dos últimos 20 anos

02/02/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Foram eleitos, em outubro do ano passado, 243 deputados que nunca tinham passado pela Câmara, 47,3% das 513 cadeiras

A composição da Câmara que tomou posse ontem tem o maior número de deputados federais estreantes dos últimos 20 anos. Foram eleitos, em outubro do ano passado, 243 parlamentares que nunca tinham passado pela Casa. O número representa 47,3% das 513 cadeiras disponíveis e é maior que o da eleição de 2014, quando 198 pessoas foram eleitas pela primeira vez para lá. Há duas décadas, nas eleições de 1998, o total de vagas renovadas foi de 183. Se incluídos os 19 deputados que já tinham feito parte de legislaturas anteriores, a taxa de renovação da Câmara sobe para 51,1%. O PSL do presidente Jair Bolsonaro foi o que mais conquistou espaço na Casa para a nova legislatura. Foram 44 novas vagas ocupadas por representantes do partido. Com o novo time de parlamentares, a legenda se tornou a segunda maior bancada do plenário, com 52 representantes ao todo. O PT segue com o maior número, mas perdeu alguns nomes: serão 54 deputados federais em 2019, cinco a menos do que o número de petistas eleitos em 2014.

Paulistas

Na análise por estado, os eleitores paulistas foram responsáveis por eleger 30 novos deputados federais. No Rio e em Minas Gerais foram escolhidos 28 e 24 estreantes, respectivamente. A Bahia e o Paraná renovaram 13 cadeiras, seguidos pelo Ceará, com 12 novatos e por Goiás e Santa Catarina, com 10 cada um. Ao todo, 244 deputados federais conquistaram a reeleição.