O Estado de São Paulo, n. 45742, 12/01/2019. Política, p. A8

 

Bolsonaro e Maia trocam bilhete em cerimônia da PGR

Dida Sampaio e Leonencio Nossa

12/01/2019

 

 

Presidente, cujo partido apoia nome do deputado ao comando da Câmara, faz pergunta com menção ao senador Fernando Collor

Em solenidade de formatura de 16 procuradores da República, ontem à noite, o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trocaram bilhete e confidências. Maia conta com o apoio do PSL, partido de Bolsonaro, para ser reconduzido ao comando da Câmara.

Na mensagem que escreveu, Bolsonaro faz uma pergunta sobre o senador Fernando Collor (PTC-AL), que, segundo assessores do governo, avalia uma candidatura à presidência do Senado. “Collor é ...dato?”, perguntou a Maia – registro da imagem do bilhete não mostra a mensagem completa.

O presidente da Câmara pegou o bilhete, leu e fez um semblante de dúvida. Em seguida, Bolsonaro recolheu o papel de volta, dobrou e guardou no bolso do paletó. O deputado, então, se aproximou de Bolsonaro para uma conversa “ao pé do ouvido”, entrecortada por risos e sinais de positivo com o polegar.

Em seu discurso, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que Bolsonaro “inaugura um mandato de mudanças” e “renova a esperança” de uma vida melhor para os brasileiros. Na mesma mesa, além de Raquel, estava o presidente do Supremo, Dias Toffoli.

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Procuradoria pede condenação de Rocha Loures

Luiz Vassallo e Fabio Serapião

12/01/2019

 

 

Ex-assessor de Temer foi filmado ao receber mala com R$ 500 mil da J&F; MPF apresenta alegações finais no processo

Em alegações finais, o Ministério Público Federal em Brasília pediu a condenação do ex-deputado e ex-assessor da Presidência da República Rodrigo da Rocha Loures (MDB-PR) no processo em que ele é acusado de receber uma mala com R$ 500 mil do grupo J&F para o ex-presidente Michel Temer. Loures é apontado pelas investigações como “longa manus” (executor de ordens) do ex-presidente.

Em 28 páginas, o procurador Carlos Henrique Martins Lima pede que o ex-assessor de Temer seja sentenciado pelo crime de corrupção passiva.

Em abril de 2017, Loures foi filmado em ação controlada da Polícia Federal recebendo a mala com R$ 500 mil do ex-executivo da J&F e delator Ricardo Saud. O ex-deputado foi um dos alvos da Operação Patmos, deflagrada em maio daquele ano, com base no acordo de colaboração da empresa.

Loures, atualmente em prisão domiciliar, foi denunciado, com Temer, acusado de receber propina. No caso do ex-presidente, no entanto, o plenário da Câmara rejeitou a autorização para que o Supremo Tribunal Federal julgasse a denúncia. Como não tinha mais prerrogativa de foro privilegiado, Loures passou a se defender do processo na 10.ª Vara Federal de Brasília.

‘Vontade livre’. De acordo com o procurador, “restou demonstrando que o réu Rodrigo Santos da Rocha Loures agiu com vontade livre e consciente e recebeu vantagem indevida para Michel Elias Temer, em virtude da condição deste de chefe do Poder Executivo, materializado no valor de R$ 500.000, além da promessa de prestações semanais”.

“A explicação do réu de que fora à pizzaria Camelo determinado a pôr termo às tratativas com Ricardo Saud e Joesley Batista é desconstruída pelo fato de que, após o dia 28/4/2017, prosseguiu trocando mensagens com o empresário, confirmando o teor das tratativas de que o pagamento indevido continuaria ocorrendo de modo permanente, reiterado e habitual e, ainda, que Rodrigo Loures falava em nome de Michel Temer”, afirmou o representante do Ministério Público.

De acordo com a denúncia, Loures agiu em nome de Temer – e na condição de “homem de confiança” do ex-presidente – para interceder na diretoria do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) – órgão antitruste do governo federal – em favor da JBS, empresa do grupo J&F. A mala de R$ 500 mil, segundo a acusação, era parte de R$ 38 milhões que o empresário Joesley Batista teria prometido para que o grupo político de Temer atuasse em assuntos de interesse da JBS no Cade.

A defesa de Rocha Loures não foi localizada pelo Estado até a conclusão desta edição. O expresidente Michel Temer tem negado envolvimento no caso.