O Estado de São Paulo, n. 45732, 02/01/2019. Política, p. A4

 

Bolsonaro reitera motes de campanha ao tomar posse

02/01/2019

 

 

Em discursos no Congresso e para o público em frente ao Palácio do Planalto, presidente diz que vai 'libertar o País' do 'Socialismo', da 'inversão de valores' e do 'politicamente correto'

Jair Bolsonaro tomou posse ontem como presidente do Brasil sem abandonar o tom eleitoral de seu discurso. Nos pronunciamentos que fez no Congresso Nacional e no parlatório do Palácio do Planalto, ele reafirmou o compromisso com bandeiras de sua campanha, se dirigindo especialmente ao eleitorado que lhe garantiu 57,7 milhões de votos em outubro. Voltou a falar em combater o que chamou de “ideologia de gênero” e prometeu libertar a Nação do “socialismo”, da “inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”.

Ao tratar de uma de suas principais promessas como candidato, afirmou que sua preocupação “será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa”. “É urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado.” As reformas estruturantes foram abordadas de forma genérica por Bolsonaro em suas primeiras mensagens como presidente. Disse que o País não gastará mais do que arrecada e que fará as mudanças necessárias, sem citar especificamente a da Previdência.

No Congresso, onde ele e o vice, general Hamilton Mourão, assinaram o termo de posse para o mandato até 2022, Bolsonaro chegou a brincar com parlamentares – “Estou casando com vocês” –, mas manteve a retórica da antipolítica: disse que montou uma equipe “sem o tradicional viés político, que culminou em corrupção”. Do parlatório, após receber a faixa presidencial do ex-presidente Michel Temer, afirmou que vai lutar contra o modelo de governo de “conchavos e acertos políticos”. Coube ao presidente do Congresso, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), o papel de porta-voz dos políticos ao afirmar que Bolsonaro e seu vice terão de saber exercer “o contraditório e o diálogo” na relação com o Legislativo.

A posse do 38.º presidente brasileiro foi marcada pelo forte esquema de segurança e pelo público menor do que o esperado – o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estimou no fim do dia que 115 mil pessoas foram à Esplanada, quando era previsto público inicialmente 250 mil. A primeira-dama, Michelle, quebrou o protocolo ao discursar em Libras (a linguagem dos sinais). O evento impôs diversas restrições ao trabalho da imprensa.