O Estado de São Paulo, n. 45733, 03/01/2019. Política, p. A8
Presidente enaltece papel dos militares
Felipe Frazão e Julia Lindner
03/01/2019
Em posse de ministro da Defesa, Bolsonaro defende rever MP que cortou benefícios à área
O presidente Jair Bolsonaro enalteceu ontem o papel das Forças Armadas no governo e disse que elas foram propositadamente esquecidas por seus antecessores porque funcionam como um obstáculo a quem deseja “usurpar o poder”. Em seu primeiro dia de agenda oficial após a posse, o presidente opôs os militares à classe política durante discurso na transmissão de cargo do Ministério da Defesa – agora comandado pelo general Fernando Azevedo e Silva, em substituição ao também general Joaquim Silva e Luna. Bolsonaro atribuiu a corrupção e a ineficiência do governo aos partidos políticos.
“Em que pese alguns bons ministros civis que tivemos, como regra nós fomos um tanto quanto esquecidos. E esquecidos por quê? Porque as Forças Armadas são, na verdade, um obstáculo para aqueles que querem usurpar o poder”, disse ele no evento, acompanhado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, e pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. “O tempo passou, as nossas Forças Armadas sofreram um brutal desgaste perante a classe política, mas não junto ao povo brasileiro, que continuou acreditando em nós. E as Forças Armadas sempre refutaram a citação de sociedade civil, somos uma sociedade só.”
Segundo Bolsonaro, a “ingerência político-partidária, lamentavelmente, nos últimos 20 anos levou à ineficácia do Estado e a nossa triste corrupção”. O presidente disse que sua eleição para o Palácio do Planalto seria prova de que o povo quer “hierarquia, disciplina, respeito, ordem e progresso”, valores militares que, segundo ele, farão do Brasil “uma grande nação”.
O presidente afirmou que, com a decisão pessoal dele de escolher o general de Exército Hamilton Mourão para disputar o cargo de vice-presidente em sua chapa, provou o valor das Forças Armadas. “A continência tem de ser simultânea porque eu digo para ele que não sou mais capitão, nem ele é general, nós somos soldados do Brasil”, disse Bolsonaro, sob aplausos de uma plateia majoritariamente militar no Clube do Exército.
Antecessores. Bolsonaro também relembrou de agrados recebidos pelas Forças Armadas dos ex-presidentes que o antecederam e com os quais se relacionou como deputado. Citou, nominalmente, José Sarney (MDB), a quem creditou a concessão de créditos de US$ 1 bilhão anualmente para o caixa dos militares. “Diga-se de passagem, não havia contingenciamento naquele tempo. Com o Sarney, tivemos também o 13.º salário”, disse o presidente. Ao falar sobre a era Fernando Collor de Mello (PTC), presente na cerimônia, Bolsonaro agradeceu pela Lei Delegada n.º 12, que reestruturou a carreira ao criar a gratificação de atividade militar. Bolsonaro ainda lembrou da isonomia salarial instituída no governo Itamar Franco. A partir daí, o presidente deixou de nominar os antecessores no Palácio do Planalto, a quem considera adversários políticos. Ele não mencionou o tucano Fernando Henrique Cardoso, tampouco os petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. “Depois tivemos o outro governo, e os senhores sabem qual foi. Tivemos alguns problemas, em especial comigo, mas prosseguimos a nossa jornada”, disse ele, referindo-se a FHC.
Benefícios. No evento, Bolsonaro defendeu revogar medida provisória editada em 2001 no governo FHC que, entre outras alterações, acabou com a promoção automática dos militares que passam para a reserva, o auxílio-moradia e o adicional de inatividade dos militares.
Azevedo e Silva defendeu que a MP seja reavaliada. Segundo ele, a medida que retirou benefícios dos militares teria sido editada sem consulta profunda e provocou mudanças da noite para o dia. “Dormimos de um jeito e acordamos de outro”, afirmou o novo ministro. Ele disse que ainda não tratou do assunto com o presidente.
‘Desgaste’
“O tempo passou, as nossas Forças Armadas sofreram um brutal desgaste perante a classe política, mas não junto ao povo brasileiro, que continuou acreditando em nós”
“A ingerência político-partidária, lamentavelmente, nos últimos 20 anos, levou à ineficácia do Estado e a nossa triste corrupção”
Jair Bolsonaro, PRESIDENTE DA REPÚBLICA