Título: Assad retoma Damasco
Autor: Seixas , Maria Fernanda
Fonte: Correio Braziliense, 05/08/2012, Mundo, p. 23

Os bombardeios mais pesados dos 17 meses de conflitos na Síria estabeleceram, ontem, uma divisão clara no país: as tropas leais ao ditador Bashar Al-Assad retomaram o controle da capital, Damasco, e os revolucionários do Exército Sírio Livre (ESL) mantiveram a vantagem nos confrontos em Aleppo, coração financeiro da Síria. O Observatório Sírio para Direitos Humanos (OSDH), organização baseada em Londres, afirmou que no bairro de Tadamun, ao sul da capital, os "bombardeios foram de uma intensidade jamais alcançada até agora". Em Aleppo, as notícias seguem o mesmo tom. De acordo com o jornal Al Arabiya, os confrontos mais intensos já vistos em Aleppo se deram ontem, quando o ESL tentava aumentar sua área de ocupação e foi duramente reprimido por ataques aéreos. A escalada de força dos ataques coincide com o aumento do número de mortos. O mês de agosto já contabiliza 530 vítimas, prometendo ser tão violento quanto o mês de julho, quando 4.372 pessoas perderam a vida nas batalhas. São mais de 22 mil mortos desde o início dos levantes.

Para o especialista em Oriente Médio Heni Ozi Cukier, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing e ex-consultor de resoluções de conflitos do Conselho de Segurança das Nações Unidas, as disputas pelo controle das duas principais cidades sírias são muito mais importantes para o governo do que para os rebeldes. "Pode ser que o regime esteja avançando em Damasco, mas, para Al-Assad, perder uma cidade grande é uma derrota considerável, que altera o equilíbrio de poder. Já para o ESL, perder uma cidade não significa tanto, porque ele luta uma guerra de insurgência e pode recuar mais facilmente", explica o especialista.

Dominada pelos opositores, Aleppo é alvo de bombardeios constantes

As ofensivas em Aleppo ganharam força após rebeldes atacarem um edifício da televisão e da rádio estatais sírias. Na madrugada de ontem, insurgentes cercaram o edifício com explosivos, mas tiveram que recuar após um ataque aéreo do Exército. A agência estatal Sana confirmou a tentativa, afirmando que "os terroristas atacaram civis e o edifício, mas os soldados os defenderam". Já o ESL garantiu que os insurgentes ocuparam o prédio e chegaram a derrubar um helicóptero do regime. Nos bairros de Seif Al-Dawla e Saladehin, ocupados por rebeldes, o ESL continuou os confrontos contra as tropas de Al-Assad, que não conseguiram avançar.

Na província de Damasco, o Exército invadiu a cidade de Irbeen em meio a um intenso tiroteio. "Há relatos de vítimas e feridos. Os moradores estão em pânico, temendo execuções sumárias e indiscriminadas. O bombardeio em Al-Mahafir continua", descreveu o OSDH, que apontou pelo menos 70 mortes pelo país ontem.

ONU

O registro das ofensivas mais violentas desde o início dos levantes surge na semana em que a Assembleia Geral da ONU anunciou a terceira resolução para a questão síria. Dessa vez, o órgão assumiu um tom mais grave, criticando a inação do Conselho de Segurança e pedindo o cumprimento do acordo de paz. Para o ativista exilado sírio e analista da Foundation for Defense of Democracies (em Washington) Ammar Abdulahamid, a nova resolução é simbólica e, mais uma vez, não terá efeitos práticos. "Especialmente após a remoção de pontos no texto que, especificamente, pediam a saída de Assad e incentivavam mais países a impor sanções ao regime. A resolução não vai mudar as posições da Rússia ou da China. Elas continuarão vetando qualquer ação significativa do Conselho de Segurança", afirmou o ativista, em entrevista por e-mail.