O Estado de São Paulo, n. 45788, 27/02/2019. Economia, p. B1

 

Maia sinaliza que governo deve ceder em aposentadoria rural e auxílio rural e auxílio a idosos

Adriana Fernandes, Idiana Tomazelli e Camila Turtelli 

27/02/2019

 

 

Em conversas com deputados, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou que, para a reforma da Previdência avançar no Congresso, o governo deverá ceder nas regras para benefícios assistenciais a idosos de baixa renda e na aposentadoria rural.

Menos de uma semana depois de entregar o texto pessoalmente ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro admitiu ontem a líderes de 19 partidos que a proposta tem espaço para alterações. “O presidente disse que a reforma tem um pouco de gordura para queimar e que sabe que o Parlamento vai fazer a moldura do projeto final”, disse o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO), após reunião com Bolsonaro.

A maior queixa entre os deputados é a de que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, não ouviu as lideranças antes de enviar a proposta com esses itens considerados polêmicos. Para os idosos de baixa renda, no chamado Benefício de Prestação Continuada (BPC), a proposta prevê o pagamento de R$ 400 a partir dos 60 anos. Aos 70 anos, o benefício alcançaria um salário mínimo. Para o trabalhador rural, a idade mínima estipulada é de 60 anos (homens e mulheres), com no mínimo 20 anos de contribuição.

“Já está demonstrado que a maioria absoluta é contra esses dois pontos”, disse o líder do DEM na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Para o líder do PP, Arthur Lira (AL), esses itens travam a discussão.

A sinalização de Maia desagradou à equipe econômica, que considera ser ainda cedo para mostrar os pontos que devem ser abrandados. Segundo fontes do governo, as lideranças do Congresso “rifaram” as mudanças no BPC e na aposentadoria rural sem antes mostrar a importância dessas alterações, entre elas, o estímulo à contribuição pelos trabalhadores.

Após peregrinação no Congresso para explicar detalhes da proposta, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, admitiu que essas regras são as que mais estão na mira das bancadas de deputados. Questionado se as mudanças no BPC e na aposentadoria rural fazem parte da “espinha dorsal” da reforma, o secretário respondeu apenas que elas “são importantes para a estrutura”. Marinho afirmou que a equipe econômica ainda não fez estimativa de qual seria o impacto de eventuais mudanças para atender os parlamentares nesses dois pontos.

Refém. Em evento do banco BTG Pactual, em São Paulo, Maia afirmou que Bolsonaro é refém do seu discurso de campanha, em um contexto de necessária aprovação da reforma. “Não tem velha e nova política, tem a política. O problema é a governabilidade da Casa em conjunto.”