O Estado de São Paulo, n. 45783, 22/02/2019. Internacional, p. A12
‘PSDB nunca teve Código de Ética’, afirma Alckmin
Tânia Monteiro
22/02/2019
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fechou ontem o espaço aéreo do país e ordenou o fechamento da fronteira com o Brasil para impedir a entrada de ajuda humanitária. Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro manteve a participação do País no envio da ajuda. Um deputado da oposição venezuelana postou fotos em sua conta no Twitter de caminhões transportando veículos blindados do Exército na cidade de Santa Elena de Uairén, a 12 km da fronteira com o Brasil.
A decisão ocorre a dois dias de a oposição venezuelana iniciar uma operação de entrega de mantimentos enviados pelos EUA com ajuda brasileira e colombiana. “Decidi que, no sul da Venezuela, fica fechada completamente a fronteira com o Brasil, até segunda ordem”, disse Maduro, após reunião com o alto comando militar em Caracas.
Sobre a Colômbia, o chavista afirmou que avalia uma medida similar e disse que o armazenamento de ajuda humanitária é uma “provocação barata”. “Responsabilizo o senhor Iván Duque (presidente colombiano) por qualquer violência na fronteira.”
Mesmo com o fechamento da fronteira da Venezuela com o Brasil, Bolsonaro decidiu manter a missão humanitária. O portavoz da Presidência da República, Otávio Rego Barros, informou que os produtos serão mantidos nas cidades de Boa Vista e de Pacaraima, em Roraima, até que meios de transporte venezuelanos busquem os suprimentos.
“Estamos disponibilizando os meios para a operação e continuamos aguardando a vinda dos caminhões de transporte dirigidos por venezuelanos”, disse. Segundo ele, os alimentos não são perecíveis e o prazo de validade dos medicamentos é longo, o que permite o armazenamento por um longo período.
A partir de amanhã começa o envio de ajuda humanitária desde Roraima para a Venezuela, afirmou ontem María Teresa Belandria, representante de Guaidó no Brasil. “Foram definidos os procedimentos para realizar a operação, por meio da qual serão transportadas em uma primeira fase até 100 toneladas de ajuda, composta por alimentos, remédios e kits de emergência, que sairão de Boa Vista”, explicou María Teresa. O controle da operação será das autoridades brasileiras.
A decisão de manter a operação foi tomada em reunião ontem entre Bolsonaro e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Santos Cruz (Governo). O chanceler Ernesto Araújo não participou, mas foi consultado por telefone, segundo o governo.
A pedido de Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão irá a Bogotá para a reunião do Grupo de Lima, que ocorre segunda-feira. O tema do encontro será a crise na Venezuela, que pode se agravar após a decisão de Nicolás Maduro de fechar as fronteiras.
“Maduro mandou fechar a fronteira para evitar que o pessoal da Venezuela venha ao Brasil buscar suprimento”, disse Mourão ao Estado. O vice-presidente garantiu que, “em hipótese alguma”, o Brasil entrará na Venezuela para qualquer finalidade. “Isso não existe.”
De acordo com Mourão, “não há situação tensa”. “Está da mesma forma que antes. Nada mudou. Vamos aguardar o que vai acontecer amanhã”, comentou, referindo-se à decisão de Guaidó de forçar a entrada da ajuda amanhã. Segundo o líder da oposição venezuelana, as doações chegarão por Cúcuta, na Colômbia, e Roraima, no Brasil. No entanto, com a fronteira fechada, isso pode não acontecer.
O aumento da tensão com o fechamento da fronteira ocorre no momento em que o alto comando do Exército se reúne em Brasília, desde a segunda-feira, em uma agenda previamente marcada, para definir as promoções de março. Nos encontros são feitas avaliações de conjunturas nacional e internacional.
Nas reuniões, os militares brasileiros descartaram qualquer chance de confronto. “O governo brasileiro não identifica, neste momento, possibilidade de fricção na fronteira”, afirmou ontem o porta-voz da Presidência.
As Forças Armadas e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ainda têm adidos em Caracas e mantêm o governo brasileiro informado. “A situação é de observação. Apenas isso”, afirmou um general, que preferiu não se identificar, já que a questão é conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores em conjunto com o Planalto.
Chanceler. Na viagem a Bogotá, Mourão será acompanhado pelo chanceler Ernesto Araújo. Ontem, o vice-presidente negou que sua ida à Colômbia represente o isolamento de Araújo. “De jeito nenhum. Ele vai comigo, só que a reunião é de presidentes e, por isso, o presidente Bolsonaro pediu para eu representá-lo”, declarou Mourão.
Na reunião do Grupo de Lima, na segunda-feira, na Colômbia, estarão representantes dos 14 países do Grupo de Lima. Entre os integrantes, apenas o México não reconhece Guaidó como presidente interino da Venezuela.
“A reunião é de presidentes e, por isso, o presidente Bolsonaro pediu para eu representá-lo”
Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil