O globo, n. 31264, 13/03/2019. País, p. 6

 

Vélez atende Olavo e demite secretário do MEC

Renata Mariz

Eliane Oliveira

13/03/2019

 

 

Garantido por Bolsonaro no cargo, ministro da Educação exonera o segundo na hierarquia da pasta. Foi a sétima mudança em dois dias na cúpula do ministério, em meio à crise com grupo de seguidores do escritor radicado nos EUA

Em meio à crise deflagrada por disputas de poder dentro do Ministério da Educação (MEC), que colocou em dúvida a permanência do ministro Ricardo Vélez Rodríguez no governo, o presidente Jair Bolsonaro anunciou ontem que o auxiliar fica. Mas o secretário-executivo da pasta, Luiz Antônio Tozi, foi exonerado.

Número dois na hierarquia do ministério, Tozi era considerado um representante da “ala técnica” da equipe. Ele estava alinhado a um grupo rival, dentro da pasta, dos chamados “olavetes”, os seguidores do escritor Olavo de Carvalho, espécie de guru de Bolsonaro.

Na noite de segunda-feira, Olavo já havia pedido a cabeça de Tozi nas redes sociais, no que acabou atendido ontem. Horas antes de a demissão ser anunciada por Vélez, o presidente sugeriu que Tozi seria exonerado.

—Vélez continua. Tem um probleminha só com o primeiro homem dele, mas está tudo resolvido — disse Bolsonaro, sem dar nomes.

Considerado de perfil técnico por ser um quadro do Centro Paula Souza, autarquia do governo de São Paulo que administra escolas técnicas e faculdades de tecnologia, Tozi havia se aliado ao ministro numa tentativa de afastar dos cargos estratégicos da pasta comissionados de forte viés ideológico, incluindo os “olavetes”.

A avaliação era de que o grupo seria responsável por desgastes sofridos por Vélez, como no caso da carta enviada pelo MEC a escolas do país com slogan de campanha de Bolsonaro e pedido de filmagem de crianças cantando o hino nacional. Os seguidores de Olavo atribuem o episódio aos militares, que, segundo eles, estariam blindando o acesso ao ministro.

Próximo a Vélez

Nos bastidores, comenta-se que a esse “golpe” veio um “contragolpe”, capitaneado por Olavo de Carvalho. Irritado ao saber que seus pupilos seriam demitidos ou rebaixados de função, o escritor expôs a guerra interna do MEC nas redes sociais na semana passada.

Na segunda-feira, pediu a cabeça de Tozi, ao comemorar a saída de um outro comissionado a quem também fez críticas, o coronel da Aeronáutica Ricardo Roquetti: “É preciso mandar todos para a rua, a começar com o tal Tozi, que estava capitaneando a operação com o Roquetti”.

A demissão de Roquetti foi determinada pelo presidente Jair Bolsonaro, no último domingo, em função dos ataques do grupo de Olavo de Carvalho nas redes sociais. O militar era um assessor próximo a Vélez.

A exoneração de Tozi também é atribuída a Bolsonaro, por pressão direta do escritor que mora nos Estados Unidos. Ele será substituído na secretaria-executiva por um outro representante do grupo “técnico”: o engenheiro Rubens Barreto da Silva, que estava como diretor de programa e havia sido nomeado secretário-executivo-adjunto na segundafeira. Silva é velho conhecido de Tozi, com o qual já havia trabalhado no Centro Paula Souza.

Vélez Rodríguez anunciou a demissão no Twitter, dizendo que a decisão era desdobramento de “mudanças necessárias”:

“Dando sequência às mudanças necessárias, agradecemos a Luiz Antônio Tozi pelo empenho de suas funções no MEC e transferimos sua missão de Secretário Executivo a Rubens Barreto da Silva, que ocupava o cargo de Secretário Executivo Adjunto”, escreveu o ministro.