O globo, n. 31259, 08/03/2019. País, p. 6

 

Justiça atesta que Adélio tem ‘transtorno delirante’

Jailton de Carvalho

08/03/2019

 

 

Laudo oficial afirma que autor de atentado contra Bolsonaro em Minas é considerado altamente perigoso

Um laudo produzido por ordem da Justiça Federal atesta que o garçom Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou o presidente Jair Bolsonaro em setembro do ano passado, sofre de “transtorno delirante permanente paranoide”. A conclusão confirma, pelo menos em parte, um laudo elaborado por um perito particular indicado pela defesa de Adélio ainda no ano passado. Se as conclusões forem acolhidas pela Justiça, o autor do atentado se tornará inimputável.

Neste caso, a ação penal será suspensa e Adélio estará livre de condenação. A informação sobre o conteúdo do laudo foi divulgada ontem pelo Jornal Hoje. O documento diz que o autor do atentado é altamente perigoso. Isso significa que, se escapar de uma sentença condenatória, Adélio deverá ser mandado para um manicômio judiciário. Nesta situação, não se pode presumir por quanto tempo ele ficará internado.

A decisão sobre o assunto caberá a 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, onde tramita um procedimento aberto a pedido da defesa para saber se Adélio tem problemas mentais. O mesmo juiz cuida da ação penal aberta contra Adélio a partir da Lei de Segurança Nacional.

A Polícia Federal ainda mantém em aberto o segundo inquérito instaurado para checar se ele teve ajuda de terceiros na tentativa de matar Bolsonaro, em 6 de setembro do ano passado, durante um ato de campanha em Juiz de Fora. Até o momento, a polícia não encontrou um único indício de que Adélio tenha recebido ordens ou ajuda de outra pessoa para cometer o crime. A tendência da investigação é confirmar a conclusão do primeiro inquérito, ou seja, que Adélio agiu sozinho.

O segundo inquérito é considerado uma das mais exaustivas investigações da história da Polícia Federal. Os policiais estão fazendo investigações sobre todas as pessoas com quem Adélio manteve contato nos últimos cinco anos. Isso inclui todos os interlocutores com quem o garçom trabalhou, trocou mensagens ou manteve qualquer outro tipo de contato. Pelo menos 80 pessoas já foram ouvidas. No radar da polícia estão parentes, amigos e até antigos empregadores.

Para não dar margem a qualquer dúvida, a polícia investigou até mesmo donos de celulares que, por algum motivo, estiveram próximos a Adélio. Os dados dos celulares foram obtidos a partir de informações registradas em antenas por onde o autor do crime passou em Juiz de Fora, Uberaba, Montes Claros e em Santa Catarina. O levantamento é similar ao que a PF fez para identificar os assassinos de três fiscais do trabalho em Unaí, em 2004.

O resultado da investigação foi apresentado a Bolsonaro no mês passado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. O presidente teria ficado impressionado com o volume de dados obtidos pela polícia desde o início da apuração. Aliados de Bolsonaro até hoje têm dificuldades de assimilar os resultados da investigação. Alguns repetem as hipóteses levantadas no início da investigação de que o garçom não tem problemas mentais. Dizem que a tentativa de assassinato seria uma conspiração contra Bolsonaro.

Apuração em aberto

A polícia planejava encerrar a apuração ainda este mês. Mas a decisão da Justiça Federal de suspender as investigações sobre a vida financeira de um dos advogados de Adélio fez os investigadores mudarem de plano. Agora, a PF já fala em deixar o caso em aberto por tempo indeterminado até que este ponto esteja esclarecido. A polícia tenta descobrir quem contratou o advogado Zanone Manuel de Oliveira para defender Adélio.

O advogado alega que foi procurado por um homem, que o contratou por R$ 25 mil, para assumir a defesa do garçom. Depois de fazer um pagamento de R$ 5 mil em espécie, o homem desapareceu supostamente por medo de represália. Zanone não revela a identidade do cliente com o argumento que se trata de sigilo profissional de advogado. A polícia espera que a Justiça anule decisão anterior e autorize a continuidade da análise da análise de dados do advogado.