O Estado de São Paulo, n. 45781, 20/02/2019. Política, p. A10

 

Alvo de buscas, Aloysio Nunes se demite do governo Doria

Pedro Venceslau

20/02/2019

 

 

Em nota, ex-chanceler nega ter recebido um cartão de crédito com US$ 275 mil da conta de Paulo Vieira de Souza

 

Saída. Aloysio anunciou demissão após encontro com Doria

Horas depois de ser alvo da Operação Ad Infinitum, a 60.ª fase da Lava Jato, o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira pediu ontem demissão do cargo de presidente da agência de investimentos Investe São Paulo, cargo que ocupava desde janeiro deste ano. O anúncio foi feito após reunião com o governador João Doria (PSDB).

Na carta de demissão, Aloysio disse ter sido surpreendido pela diligência da Polícia Federal em sua casa e afirmou que não teve acesso aos autos. Ele justificou que “o fato incontornável é a repercussão negativa desse incidente, que mortifica a mim e à minha família, e que também pode atingir o governo de V. Exa. (Vossa Excelência)”. “Não tenho, em minha consciência, o que possa comprometer a lisura que sempre mantive com o padrão de minha conduta.”

A PF cumpriu ontem mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Aloysio, entre eles o apartamento onde o exchanceler mora no bairro de Higienópolis, na zona oeste da capital paulista.

Segundo investigadores, Aloysio teria recebido um cartão de crédito em dezembro de 2007 vinculado a uma das contas da offshore Groupe Nantes, controlada pelo ex-diretor da Dersa e suposto operador do PSDB Paulo Vieira de Souza – preso ontem pela terceira vez. À época, Aloysio era secretário da Casa Civil do governo de José Serra (PSDB) em São Paulo e teria indicado Vieira de Souza para ocupar o cargo de diretor de Engenharia da Dersa, estatal paulista responsável por obras viárias, como o Rodoanel.

Documentos fornecidos pelo Ministério Público da Suíça mostram que o cartão de crédito foi enviado para Aloysio no Hotel Majestic, em Barcelona, na Espanha, onde teria ficado hospedado entre os dias 24 e 29 de dezembro de 2007.

Na decisão que autorizou a operação, a juíza Gabriela Hardt, da 13.ª Vara Federal de Curitiba, afirmou que Aloysio era o “beneficiário final” do cartão de crédito, abastecido com mais de US$ 275 mil. “Há elementos probatórios documentais de que, no ano de 2007, ele foi o beneficiário final de um cartão vinculado à conta do Groupe Nantes, na Suíça, abastecida com US$ 275.776,04 provenientes da Odebrecht”, afirmou a magistrada.

Aloysio é o segundo nome do primeiro escalão do governo João Doria a se afastar após ação da PF na Operação Lava Jato – o primeiro foi o ex-ministro Gilberto Kassab, alvo de mandados de busca e apreensão em sua residência no inquérito que investiga o suposto recebimento de R$ 23 milhões de propina da JBS. Kassab pediu licença do cargo de secretário estadual da Casa Civil.

Defesa. Em nota, Aloysio negou ter recebido o cartão vinculado a uma conta de Vieira de Souza. O PSDB de São Paulo afirmou que “não mantém qualquer tipo de vínculo” com o exdiretor da Dersa e “jamais recebeu qualquer contrapartida de empresas nem autorizou terceiros a fazê-lo em seu nome”.