Título: O inferno astral de um acusado de lavar dinheiro
Autor: Mader , Helena
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2012, Política, p. 2

Réu no julgamento do mensalão, condenado por fraude em concurso público e envolvido em batalha jurídica dentro do próprio partido. O prefeito de Uberaba, Anderson Adauto (PMDB), vive um inferno astral nos últimos tempos. Sem contar que ele traz no currículo um escândalo na época em que foi ministro dos Transportes no governo Lula, entre 2003 e fevereiro de 2004, com denúncias de favorecimento a empreiteiras e desvio de recursos públicos, que, sem investigação, acabaram arquivadas. Com o apoio do ex-presidente, deixou a pasta para disputar a prefeitura da cidade no Triângulo Mineiro.

Os envolvidos no que foi considerado o maior esquema de compra de votos de parlamentares já descoberto no país, o mensalão, começaram a ser julgados há 11 dias no Supremo Tribunal Federal (STF). Amanhã será a vez de Roberto Pagliuso, advogado de Adauto, um dos réus da Ação Penal 470, fazer a sustentação oral para derrubar as acusações pelas quais o prefeito responde: crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Enquanto se diz aliviado com o início do julgamento do mensalão, que, para ele, será o momento para fazer sua ampla defesa, Anderson Adauto, 55 anos, considera injusto o resultado de um júri no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que, na quinta-feira passada, o condenou a três anos de reclusão por crime contra a fé pública, sentença que foi convertida em pagamento de multa.

A tese da acusação, de que houve fraude no processo seletivo para a contratação de 43 agentes de saúde, em 2006, foi acatada por unanimidade pelos cinco desembargadores da 2ª Vara Criminal do TJMG. O caso foi denunciado à época ao Ministério Público — que representou contra o prefeito no Judiciário — pelo então secretário municipal de Saúde, Alaor Carlos de Oliveira Júnior. Por se tratar de condenação criminal em órgão colegiado, sendo o acórdão publicado, Anderson Adauto deverá estar inelegível por, pelo menos, oito anos. Ele também será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o que deve jogar por terra sua já anunciada pretensão de disputar uma cadeira de deputado federal nas eleições de 2014.

Por meio de nota distribuída por sua assessoria de imprensa, o prefeito lembrou que, ao tomar conhecimento das denúncias relacionadas a problemas com o processo seletivo, determinou seu imediato cancelamento. "Fui condenado por falha na fiscalização, com o que não posso concordar. Agi de forma preventiva, imediatamente, às denúncias e sem prejuízo a qualquer pessoa que seja", disse o prefeito. Seus advogados já foram orientados a ingressar com recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) assim que o acórdão for publicado.

Disputa Não bastassem esses problemas, Adauto também está no meio de uma disputa jurídica travada por alas distintas do seu partido. O PMDB de Uberaba se digladia desde o ano passado por causa da indicação do candidato à sucessão municipal. Adauto — reeleito em 2008 no primeiro turno do pleito — e boa parte do Diretório Municipal apoiam o advogado e ex-secretário municipal de Governo Rodrigo Mateus, enquanto a outra corrente defende o nome do deputado federal Paulo Piau.

Piau foi indicado candidato em convenção após intervenção no diretório local, aprovada pela Executiva Estadual do partido por 10 votos a um, em maio, enquanto o prefeito e seus aliados homologaram o nome de Rodrigo em outra assembleia de filiados. Paralelamente, seu grupo ingressou na Justiça questionando a intervenção, suspensa por liminar do TJMG. Por causa disso, o pedido de registro de Piau foi indeferido, tampouco Rodrigo conseguiu legalizar sua situação na Justiça Eleitoral, que não reconheceu a convenção que o alçou a candidato, alegando ilegitimidade de quem a convocou: o 10º suplente do diretório.

O deputado e o ex-secretário recorrem da decisão, mas, se as eleições fossem hoje, o PMDB estaria de fora do pleito. Segundo Piau, desde o início, Anderson trabalhou para tirar o partido da disputa, ao que o prefeito reage afirmando que seu correligionário deu um golpe ao compactuar com a intervenção.