Título: O voo de Eduardo rumo a 2018
Autor: Rothenburg , Denise
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2012, Política, p. 10

Governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos aproveita as eleições municipais para viajar pelo país. Sob a justificativa de "fortalecer nacionalmente a legenda", Eduardo apresenta-se como uma alternativa de liderança nacional para futuras disputas presidenciais. Esta semana, estará em Curitiba, ao lado do candidato socialista, Luciano Ducci. Na última quinta-feira, visitou Cuiabá, com Mauro Mendes, empresário que lidera as pesquisas na cidade. No principal estado do país, São Paulo, já esteve em Campinas, Franca, Marília e São José dos Campos.

Embora pretenda estimular o crescimento do partido em todo o país e aceite o convite de candidatos, vereadores e deputados das mais diversas regiões, Eduardo vai privilegiar viagens a cidades do Sudeste, do Centro-Oeste e do Sul, regiões em que ainda é pouco conhecido. A intenção é projetar-se como opção eleitoral, provavelmente em 2018. "O pós-Dilma é uma porta aberta para todos", reconheceu um interlocutor do governador pernambucano.

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, assegurou ao Correio que não existe intenção do partido de romper com o governo Dilma. Considera, inclusive, um erro, diante de uma crise internacional batendo à porta e restando ainda dois anos e meio de mandato da atual presidente, discutir a sucessão. "Mas, com toda certeza, o PSB trabalha para ter candidatura própria em 2018", confirmou.

Aos aliados, Campos diz que "ninguém é candidato de si mesmo". Acrescenta que, por ora, seu trabalho é fortalecer o PSB e governar Pernambuco. Também frisa que não existe candidato a vice. Embora haja caneladas recíprocas com o PMDB, ele não se empolga com a ideia de desalojar Michel Temer do condomínio presidencial. "Alguém, em sã consciência, imagina que o PMDB abandonará Dilma em 2014? Só se o governo estiver mal avaliado e houver a possibilidade de uma outra candidatura", completou um socialista.

Senado A tendência é que Eduardo se lance candidato ao Senado daqui a dois anos, quando terá encerrado o segundo mandato e os oito anos à frente do governo de Pernambuco. A possibilidade de apresentar-se como alternativa presidencial em 2014 é remota e depende de vários fatores. O principal deles é o humor da população em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. Se os índices estratosféricos que ela apresenta hoje minguarem, Eduardo estará pronto para sair com o discurso de que a esquerda não pode se arriscar a perder a hegemonia nacional.

Esse foi, aliás, o discurso que usou para lançar Geraldo Júlio, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, candidato a prefeito de Recife pelo PSB. Eduardo Campos aproveitou que o PT estava em pé de guerra por conta da confusão em torno das prévias em que o prefeito João da Costa derrotou Maurício Rands. O PT lançou o senador Humberto Costa, impedindo João da Costa de disputar a reeleição, e Campos resolveu patrocinar um nome técnico, conhecido como ""o" Dilma do Eduardo".

"Com toda certeza, o PSB trabalha para ter candidatura própria em 2018" Roberto Amaral, vice-presidente do PSB

Análise da notícia Aliado enciumado O crescimento do PSB é visto com ciumeira e preocupação por PMDB e PT. Em um passado recente, os petistas buscaram estimular o crescimento político do aliado. Mas, segundo admitiram alguns integrantes da legenda da estrela solitária, "ninguém se atentou que a faixa do eleitorado era a mesma e que, fatalmente, mais cedo ou mais tarde, petistas e pessebistas estariam ocupando o mesmo espaço".

O estilo pessoal de Eduardo Campos também incomoda a alguns petistas. Ele tem um canal de interlocução direto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o presidente chegou ao poder em 2003, o então todo-poderoso ministro José Dirceu chamou Campos — na época deputado pelo PSB pernambucano — e disse que, sempre que quisesse, procurasse a Casa Civil para intermediar audiências com o presidente. "Desculpe, Dirceu, mas com Lula eu falo direto", respondeu.

Eduardo Campos ainda precisa gastar a sola de sapato para colocar-se como alternativa nacional. Não romperá com Lula, pois é grato ao petista por tê-lo ajudado durante os oito anos de governo em Pernambuco. Mas ampara-se na possibilidade de, daqui a seis anos, a população apostar em uma renovação política no plano federal. Não por acaso, mantém uma amizade pessoal com outra aposta, desta vez da oposição — o senador Aécio Neves (PSDB-MG). (PTL)