Título: O desafio de expandir a UnB
Autor: Alcântara , Manoela
Fonte: Correio Braziliense, 12/08/2012, Cidades, p. 30

A estrutura da Universidade de Brasília cresceu 25% nos últimos quatro anos, mas a qualidade da educação não acompanhou a ampliação. O problema fica para o próximo administrador MANOELA ALCÂNTARA

A Universidade de Brasília (UnB) ampliou, nos últimos anos, as possibilidades de acesso ao ensino superior público no Distrito Federal. Os recursos do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) para obras acabam neste ano, mas serviram para o crescimento estrutural de 25% em quatro anos, além do crescimento na quantidade de cursos e nas ofertas de vagas na instituição.

Esse desenvolvimento, no entanto, também provocou demandas a serem resolvidas pelo próximo reitor da UnB. Nove dos 10 candidatos inscritos para as eleições, previstas para 22 e 23 de agosto, preveem nas propostas de atuação soluções diferentes para consolidar a expansão. Os câmpus de Planaltina e do Gama, por exemplo, dependem de acabamento em alguns pontos, como os estacionamentos, além de melhorias no sistema de internet e no acesso aos laboratórios. No de Ceilândia, falta concluir a Unidade Acadêmica, de responsabilidade do GDF. Hoje, os universitários assistem às aulas em um espaço provisório, numa escola de ensino fundamental.

Quando falam em expansão, eles são unânimes ao planejar um aumento da qualidade nos cursos. Na visão de Volnei Garrafa, inscrito pela chapa Viver UnB, os novos câmpus foram criados sem infraestrutura mínima, indispensável para o bom funcionamento. "Não há restaurante universitário nem previsão de moradia. Na realidade, a UnB não cresceu: inchou. Vamos instalar RUs nos outros câmpus. Assim, resolveremos a situação difícil do refeitório da Asa Norte", afirmou o professor da Faculdade de Ciências e Saúde.

O professor Paulo Cesar Marques, da UnB+50, avalia que, para consolidar o processo, é necessário superar o descompasso entre a ampliação de cursos e de vagas e o provimento de infraestrutura adequada às atividades acadêmicas e ao apoio. "Não podemos fechar os olhos para a nova realidade. Vamos instalar restaurantes nos câmpus de Planaltina, do Gama e de Ceilândia, além de bibliotecas e laboratórios para pesquisa", prevê o especialista na área de transportes.

Exigência A exigência para manter o nível de aprendizado e de recursos da Asa Norte nos novos câmpus também é a intenção de Ana Valente, da chapa Uma reitoria valente para honrar a UnB. "É preciso alavancar indicadores dos antigos e dos novos cursos", defendeu a professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária. As ideias de Sadi Dal Rosso, da Construindo a unidade, coincidem com as de Ana Valente. Ele fará um diagnóstico do Reuni e buscará soluções para sanar os problemas. "É preciso consolidar a expansão. Além disso, queremos ampliar o RU da Asa Norte e instalar outros nos demais câmpus", explicou o professor de sociologia.

Na tentativa de dar prosseguimento à atual gestão, o atual vice-reitor, João Batista de Sousa, ressaltou os pontos positivos do crescimento da universidade. "As obras paralisadas foram retomadas e concluídas. Em Planaltina, foram finalizados dois prédios nos últimos quatro anos. O único registro de atraso fora do previsto ocorreu em Ceilândia, que estava sob a responsabilidade do GDF", disse o candidato da chapa UnB: excelente e solidária.

Para terminar o que falta e garantir a interação entre os quatro câmpus, Ivan Camargo, da UnB somos nós, vê como obrigação do próximo reitor o contato direto com o Ministério da Educação. "É preciso garantir os recursos destinados à ampliação das vagas promovidas pelo Reuni. As obras ainda estão inacabadas e várias outras planejadas ainda nem foram iniciadas", reclamou.

O alerta de Gustavo Lins, da Inova UnB, é para que a comunidade se questione até em que ponto quer crescer. "Queremos uma universidade de massa com problemas crescentes de qualidade de infraestrutura, ensino e pesquisa? Até onde é administrável uma instituição maior do que isso?", questionou. Ele acredita que, com o crescimento do número de egressos do ensino médio, fica clara a necessidade da criação de uma universidade pública distrital e de outras federais no DF.

Maria Luisa Ortiz, da Gira UnB para uma nova gestão, afirma que a criação de cursos e a ampliação na quantidade de vagas não foram proporcionais ao comprometimento dos índices decorrentes das aferições qualitativas. "Lembramos que quantidade não equivale a qualidade. Se queremos nos transformar numa universidade de ponta, teremos que lutar pela qualidade e pela excelência", acrescentou.

Uma avaliação criteriosa do projeto de expansão, com a participação da comunidade por meio das instâncias colegiadas será feita caso Denise Bomtempo, da Inovação e Sustentabilidade, seja eleita. "Pretendo garantir no projeto político-pedagógico-institucional o trabalho conjunto entre ensino de graduação e de pós-graduação, pesquisa e extensão de forma coerente com as necessidades de infraestrutura da UnB", frisou. Outro desafio dos postulantes ao cargo máximo da UnB é manter os auxílios a todos os alunos de baixa renda e formular novas políticas eficazes de assistência (leia quadro).