O Estado de São Paulo, n. 45778, 17/02/2019. Política, p. A10

 

Bolsonaro assina demissão de bebiano

Vera Rosa 

17/02/2019

 

 

CLEVERSON OLIVEIRA SG/PR-4/02/2019

Pasta. O ex-comandante da Força de Paz da ONU no Haiti, general Floriano Peixoto (à esq.), trabalha na Secretaria-Geral com Gustavo Bebianno (à dir.)

 

O presidente Jair Bolsonaro já assinou a demissão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno. A dispensa do auxiliar deverá ser publicada amanhã no Diário Oficial da União. A informação foi confirmada pelo Estado com dois interlocutores de Bolsonaro.

Nos últimos dias, políticos e militares tentaram interceder a favor de Bebianno, mas o presidente está irredutível e, segundo apurou o Estado, planeja nomear um general para o lugar do ministro. Se isso ocorrer, será o nono militar a ocupar o primeiro escalão. O mais cotado para o cargo é o general Floriano Peixoto, secretário executivo da pasta, que esteve ontem com o presidente.

Em conversas reservadas, Bolsonaro avaliou que o chefe da Secretaria-Geral quebrou a relação de confiança com ele ao deixar “vazar” áudios de diálogos entre os dois. O ministro nega o vazamento.

Preocupados com a alta temperatura da crise, auxiliares do presidente observam, por sua vez, que Bebianno ainda pode criar muitos problemas para o governo, se a demissão não for revertida, porque seria o que se chama no jargão político de “homem bomba”. Um desses interlocutores, que conversou recentemente com Bolsonaro, disse ao Estado, porém, que a situação é insustentável e a decisão do rompimento, “irreversível”.

Segundo esse auxiliar, que falou sob a condição de anonimato, a decisão de Bolsonaro não se deve à interferência do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). O filho de Bolsonaro chamou Bebianno de “mentiroso” logo após o ministro ter concedido entrevista ao jornal O Globo, na terça-feira, dizendo que não estava isolado no Palácio do Planalto depois da denúncia, publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, de que teria patrocinado candidaturas laranjas do PSL em 2018, para desviar recursos do Fundo Eleitoral. À época, Bebianno presidia o PSL.

Na tentativa de mostrar que não havia crise, o ministro afirmou ao O Globo que, no dia anterior, falara três vezes com o presidente, então internado no hospital Albert Einstein, recuperando-se de cirurgia para reconstrução do trânsito intestinal. Carlos desmentiu essas conversas no Twitter e o presidente endossou a atitude do filho, horas depois, em entrevista à TV Record.

Mais tarde, no entanto, Bolsonaro mandou Bebianno cancelar viagem ao Pará, com outros ministros, porque não gostou de saber que ele havia convidado um veículo de comunicação para acompanhar a comitiva. A partir daí, o chefe da Secretaria-Geral da Presidência teria mostrado a amigos arquivos de áudio com a voz de Bolsonaro ordenando que ele suspendesse a viagem, além de outras conversas.

Ao tomar conhecimento dessa atitude, o presidente – que já havia resolvido manter Bebianno no cargo – ficou furioso e decidiu dispensá-lo. Anteontem, em conversa ríspida com o ministro, disse que se sentia traído. Depois, ofereceu a Bebianno uma diretoria na Itaipu Binacional, mas ele recusou. “Não estou no governo por causa de cargos. Sou uma pessoa leal”, afirmou o chefe da Secretaria-Geral.

 

Generais. A Secretaria-Geral da Presidência já tem dois generais. Além de Floriano Peixoto, lá está Maynard Santa Rosa, que dirige a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Floriano Peixoto é paraquedista, veterano da missão da ONU no Haiti e um dos cinco generais formados na turma de 1976 da Academia Militar das Agulhas Negras a ocupar cargos no governo.

Santa Rosa ficou conhecido por criticar a Comissão Nacional da Verdade. Também atacou a reforma da Previdência de Michel Temer (“projeto de inspiração draconiana”) e defendeu no blog do Exército, em 2018, a mudança na Constituição para que o governo pudesse controlar a criação de cooperativas e associações, garantindo “o direito de defesa do Estado” contra a “proliferação de organizações não governamentais, muitas delas projetadas para atender a interesses ocultos e a órgãos de inteligência estrangeiros que operam em território brasileiro”.

 

Humor

“Ele (Bolsonaro) passou duas semanas enfiado num hospital recebendo informações que muitas vezes não chegam de maneira correta. A pessoa fica de mau humor.”

Gustavo Bebianno

MINISTRO DA SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA