Título: Disputas na base atrapalham PMDB
Autor: Caitano , Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2012, Política, p. 4

O desenlace no lançamento de candidaturas do PT e do PSB para as eleições municipais tem fortalecido a possibilidade de haver disputa na sucessão de Marco Maia (PT-RS) na Presidência da Câmara. O nome do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), pré-estabelecido em 2011 por acordo entre seu partido e os petistas, não é unanimidade. Há quem já veja brechas para que outro candidato entre na disputa e derrube a esperança do peemedebista de chegar ao comando da Casa. O resultado das urnas em outubro será decisivo para aventar a ideia.

Para viabilizar a eleição de Marco Maia em 2010, foi estabelecido o revezamento das duas maiores bancadas — PT e PMDB, que juntos somam 166 deputados — com o nome de Alves para a sucessão. Desde então, o peemedebista iniciou sua campanha, para garantir que os demais partidos também o amparem. Ele não contava, porém, que a própria base governista poderia se romper. Depois que PT e PSB se estranharam na escolha de candidatos em Recife e em Belo Horizonte, a aliança entre as duas legendas ficou enfraquecida. E o PSB começou a se aproximar de outras bancadas.

Os principais avalistas de uma possível candidatura peessebista são o PSD e o PCdoB. Somadas, as três legendas têm 90 deputados. O número não seria suficiente para desbancar Alves, mas os novos aliados contam com uma dissidência na base para garantir votos. "Uma certeza nós temos: o Henrique não é uma decisão absoluta na Câmara. Existem várias resistências que podem ser potencializadas e viabilizar outra candidatura", aponta o líder do PSD, Guilherme Campos (SP).

Aliados de Alves, porém, consideram improvável a derrota do líder do partido. "O PMDB não se divide nessas questões, embora haja algumas divergências com a direção, em relação ao Henrique estamos unidos. Para nós, é importante tê-lo como presidente", comenta o deputado Osmar Terra (PMDB-RS). O parlamentar destaca que uma candidatura do PSB desestruturaria a base governista. "Seria uma ruptura com todos os acordos já feitos. Acho que a única justificativa para o PSB se afastar da base é a candidatura de Eduardo Campos (presidente do partido e governador de Pernambuco) à Presidência da República em 2014. Mas não acredito nisso agora."

Além de contar com a dissidência governista, a aliança PSB-PSD-PCdoB precisará da oposição e dos independentes para ter alguma chance. E, apesar de Henrique Eduardo Alves já ter se aproximado desses partidos, seus líderes garantem que ainda não há nada definido. A oposição, que também tenta lançar candidato, comemora. "Esse ainda é um jogo zerado que vai depender dos encontros e dos desencontros na base", afirma o líder do PSDB, Bruno Araújo (PE). Ele considera o PSB um "jogador importante no processo". Outro cacique tucano destaca que, se o partido levar em conta as alianças das eleições municipais, a legenda de Eduardo Campos tem mais possibilidade de ganhar seu apoio. "O PMDB é adversário do PSDB em cidades estratégicas e o PSB é aliado em muitos locais importantes", sugere.

Delgado candidato Apesar de não haver um nome fechado, o indicado mais cotado para a candidatura alternativa é Júlio Delgado (PSB-MG), quarto-secretário da casa. Ele já havia se lançado na disputa que elegeu Maia, mas foi convencido pelo governo a desistir. Acabou engolindo o posto da mesa diretora, que lhe garantiu o comando dos apartamentos funcionais da Câmara. Delgado não é fã do posto de síndico, mas a vaga lhe garantiu maior aproximação dos parlamentares. "Ele tem um trânsito muito bom, principalmente no baixo clero, que pode não ter voz, mas é volumoso", ressalta um líder da oposição.

O próprio Delgado se orgulha de não ter adversários declarados na Casa, ao contrário de Henrique Alves, e conta com a simpatia dos colegas para viabilizar sua candidatura. Oficialmente, ele evita falar no assunto antes das eleições, que poderão desenhar melhor o quadro político para a sucessão presidencial. Mas, pelo bom trânsito entre todos os partidos, muitos o consideram o melhor nome entre os outros cotados pelo bloco PSD-PSB-PCdoB: Guilherme Campos, Márcio França (PSB-SP), Eduardo Sciarra (PSD-PR), José Carlos Araújo (PSD-BA) e até Aldo Rebelo (PCdoB-SP), licenciado da Câmara para ocupar o cargo de ministro do Esporte.

Com qualquer dos nomes, o grupo já tem mantido conversas com os demais partidos e acredita na possibilidade de repetir o sucesso de um azarão, como aconteceu em 2005 com Severino Cavalcanti (PP-PE). Ele se beneficiou com o racha ocorrido no PT e foi eleito, derrotando o petista Luiz Eduardo Greenhalgh. "A base governista se mantém com acordos. Se o governo não zelar pela união da base, deixando as coisas rolarem soltas, ficará difícil o controle depois", alerta um peemedebista.

O Henrique (Eduardo Alves) não é uma decisão absoluta na Câmara. Existem várias resistências que podem ser potencializadas e viabilizar outra candidatura" Guilherme Campos (SP), líder do PSD na Câmara dos Deputados