O globo, n. 31277, 26/03/2019. Economia, p. 15
Reaproximação
26/03/2019
Governo aposta em Guedes para superar crise e abrir caminho para reforma
Com os ânimos ainda acirrados por um fim de semana de troca de farpas entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o governo conta com a ajuda do ministro da Economia, Paulo Guedes, para tentar arrefecer a crise com o Congresso e abrir caminho para aprovar a reforma da Previdência. Guedes participa de audiência pública nesta terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para falar da proposta.
- A vinda do Paulo Guedes já é algo que a gente espera que dê uma arrefecida (na crise), porque ele vai tirar dúvidas e falar sobre a necessidade da reforma. Ele é um ministro importantíssimo nesse momento por causa da pauta prioritária do governo. Isso tudo faz parte do movimento de aproximação do Executivo, mostrando a disposição de interagir junto do Legislativo - disse o líder do governo na Câmara, major Vitor Hugo.
A tarefa do chefe da pasta da Economia, no entanto, não será fácil. A segunda-feira começou com o próprio presidente, que reuniu ministros palacianos e Guedes, fazendo um esforço de aproximação com o Congresso. Mas, mesmo depois do apelo do Planalto - especialmente dos ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Carlos Alberto Santos Cruz (Secretaria de Governo) - para que houvesse trégua, os perfis bolsonaristas nas redes sociais, influenciados pelo vereador Carlos Bolsonaro, continuaram a fazer postagens com ataques a Rodrigo Maia. A atitude irritou até mesmo a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), que tem tentado intermediar um acordo de paz.
Apoio com ressalvas
Nesta terça-feira, os líderes dos partidos DEM, MDB, PSD, PP, PR e PRB farão uma declaração de apoio à reforma da Previdência. Essas legendas, no entanto, deixarão claro que não apoiarão mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) - concedido a idosos e deficientes da baixa renda - e nas regras de aposentadoria dos trabalhadores rurais. O PR defende ainda uma flexibilização nas normas para os professores, reduzindo a idade mínima de aposentadoria, proposta no texto, de 60 anos para 55 anos. O ato também representa um sinal de apoio a Maia.
O presidente da Câmara não comentou mais o assunto, mas também fez movimentações. Almocou com a cúpula do DEM, incluindo o Presidente do Senado, David Alcolumbre e Lorenzoni.
Durante o encontro, o chefe da Casa Civil ouviu a contrariedade do DEM em relação às postagens nas redes sociais. Onyx também ouviu críticas direcionadas a Vitor Hugo. No domingo, após reunião com Bolsonaro para tratar da tramitação da reforma da Previdência, o líder defendeu “a nova política” e disse que Bolsonaro está convicto de suas atitudes. Ele citou Maia em grupos de mensagens como se o presidente da Câmara estivesse associado a uma “velha política”, na qual votos são trocados por cargos. Os caciques do DEM reforçaram ainda ao ministro que é preciso criar um ambiente político positivo para a aprovação da reforma.
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou, no fim do dia, que, se a proposta de reforma da Previdência não for aprovada, o Brasil vai mergulhar "em um buraco sem fundo":
- Nós temos duas opções: aprovar a proposta a Previdência ou mergulharmos em um buraco sem fundo.
Ainda conforme o porta-voz, o presidente está disposto e aberto à interlocução com todos os congressistas. Sobre a relação tumultuada com o presidente da Câmara, ele brincou com a origem militar de Bolsonaro:
- Embora o presidente não tenha sido boina azul, ele tem como lema “tudo pela paz”.
Resolvida em 3 ou 4 meses
Também em tom otimista, Guedes disse nesta segunda acreditar que as lideranças políticas vão “superar problemas de comunicação” que afetam a proposta. Segundo ele, a reforma pode ser “resolvida” na Câmara em três ou quatro meses.
- As principais lideranças políticas vão superar eventuais problemas de comunicação. É natural com todo mundo. O presidente que está chegando falar: “não quero dançar de rosto colado”. Mas o par que está com ele tem que dizer: “tudo bem, mas temos que dançar junto”. Nós vamos ter que conversar sobre isso - disse Guedes em evento com prefeitos.
O Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, por sua vez, afirmou que Bolsonaro e Maia “exageraram” em seus embates públicos nos últimos dias. Mas ressaltou que considera o assunto “matéria superada” e disse que não vê risco para a votação da reforma:
- O presidente Rodrigo Maia e o presidente da República, nesse episódio, acho que exageraram, tanto de um lado quanto do outro. Mas eu entendo que é natural da política. Política é debate, diálogo e entendimento. Busco no Senado estabelecer diálogo, harmonia, e espero poder contribuir com meu papel institucional.
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Empresários prometem defender proposta no Congresso
Marcello Corrêa
26/03/2019
Em troca de apoio, governo prepara um pacote de medidas para diminuir a burocracia e melhorar a competitividade
Representantes do setor produtivo prometeram ontem ajudar o governo na articulação da reforma da Previdência no Congresso. Após reunião com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o titular da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, um grupo de 11 entidades reforçou a defesa da medida para destravar o crescimento econômico. Enquanto a proposta não anda, esperam um pacote de ações que prometem desburocratizar o ambiente de negócios e reduzir o chamado“custo Brasil ”, prometido parada quia 15 dias.
Dias após acrise deflagrada entre Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), os empresários, que formam a Coalizão Indústria, afirmaram que participarão ativamente da defesa da reforma junto aos parlamentares com quem têm interlocução. Eles negaram, no entanto, que a decisão de participar da articulação esteja relacionada às dificuldades do governo em negociar no Congresso.
—Sempre houve uma interlocução por parte de todos os segmentos. Existem frentes parlamentares que atuam de longa data. Esse é um trabalho corriqueiro, que sempre foi feito pela indústria — afirmou Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil e porta-voz da coalizão.
Por enquanto, o grupo aposta em outras medidas. As mais imediatas são um “revogaço” para acabar com normas que, na visão dos empresários, aumentam a burocracia no país. A agenda está sendo tocada pela Casa Civil. Em outra frente, o Ministério da Economia trabalha em um pacote para melhorara produtividade das empresas. Uma das medidas deve ajudara reduzir custos de energia.