Título: Cerco a Aleppo
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Fonte: Correio Braziliense, 06/08/2012, Mundo, p. 13

Um dia depois de bombardear Damasco, o Exército sírio voltou seus caças e helicópteros a Aleppo, o principal reduto dos rebeldes. Na tentativa de retomar o controle de uma cidade considerada chave na guerra civil que se estende há 17 meses, pelo menos 20 mil soldados foram destacados como reforço, mas os insurgentes garantiam que controlavam a metade da cidade e que, mesmo com os bombardeios, os oficiais não conseguiam avançar pelos bairros. De acordo com um chefe de segurança, a batalha de Aleppo ainda não começou, e os ataques do fim de semana seriam apenas preparativos.

Os jornalistas internacionais que cobrem o conflito, porém, testemunharam fortes combates na cidade. Um correspondente da Reuters relatou que tanques entraram em becos do bairro de Salahedin, onde os rebeldes buscavam abrigos, e um deles atingiu um prédio perto do repórter, jogando destroços na rua e fazendo subir enormes colunas de fumaça. Os jornalistas da AFP contaram que rebeldes e oficiais se enfrentaram com violência no mesmo bairro, enquanto aguardavam a grande ofensiva prometida pelo regime.

Para aliviar Aleppo, os rebeldes atacaram durante quase toda a noite o Aeroporto Militar de Managh, onde ficam alguns helicópteros. Os aviões da aeronáutica, porém, chegavam de Idleb, mais a oeste, ou de outras regiões, sem sinais de trégua. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, além de Salahedin, houve bombardeios aéreos em Shar e Sajur, sitiados pelo Exército. Em desvantagem bélica frente às forças de Bashar Al-Assad, os rebeldes tentavam constantemente encontrar armamentos. "Nós só temos 200 tiros por arma", disse Abu Furat al-Garabolsi, um oficial que desertou. "Temos que estar completamente seguros quando atiramos contra um avião porque não seremos capazes de reabastecer o que usamos."

Destruição

Em um comunicado, o Conselho Nacional Sírio (CNS), a principal coalizão da oposição, acusou o Exército de bombardear as sedes de instituições públicas, que fazem parte do patrimônio arquitetônico de Aleppo. A cidade é uma das mais antigas do mundo, e a parte velha é considerada pela Unesco "de valor universal inestimável". O CNS reiterou também o pedido a favor de 800 famílias no centro histórico de Homs (centro), que há mais de 60 dias estão "ameaçadas não só por um bombardeio selvagem, mas também pela fome, sede e falta de medicamentos". O Conselho pediu à comunidade internacional, muito dividida sobre a crise síria, e aos países vizinhos para "atuar seriamente frente à ameaça que o regime representa para a existência da Síria, à paz e à estabilidade internacional".

Damasco e Aleppo — importantes peças na batalha pela Síria — ficaram relativamente livres da violência nos primeiros meses do levante, mas os combates foram para a capital logo depois que uma bomba, em 18 de julho, matou quatro pessoas do círculo próximo a Assad. Logo depois, os combates começaram em Aleppo.

Astronauta deserta

O general Mohamed Ahmed Faris, um aviador que se converteu no fim dos anos 1980 no primeiro astronauta sírio, fugiu ontem para a Turquia depois de desertar do Exército de Bashar al-Assad. Antes de cruzar a fronteira, Faris visitou a sede do Exército Sírio Livre em Aleppo, uma mostra de solidariedade com as forças rebeldes. A Turquia acolheu mais de 45 mil refugiados que fogem do conflito e também desertores do Exército sírio em um campo de alta segurança separado do reservado aos civis.