O Estado de São Paulo, n. 45774, 13/02/2019. Política, p. A1
Delator cita reunião para pagar ‘Mineirinho’
13/02/2019
Ex-gerente depôs em inquérito que apura suspeita de repasses de R$ 30 mi a Aécio
Investigação. A defesa de Aécio Neves nega as acusações
Em depoimento prestado à Polícia Federal no início de dezembro, o ex-gerente de Recursos Humanos da Odebrecht Ênio Augusto Pereira e Silva disse ter visto na planilha de caixa 2 da empreiteira uma programação de pagamentos para um destinatário identificado como “Mineirinho” – apelido atribuído por investigadores da Lava Jato ao deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG).
O ex-gerente afirmou ainda que o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Henrique Valladares se reuniu com o exdiretor de Furnas Dimas Toledo “para tratar a respeito de pagamentos para ‘Mineirinho’”.
A defesa de Aécio disse que a investigação não encontrou “qualquer elemento que o vinculasse às denúncias feitas”.
Pereira e Silva depôs no inquérito que apura o suposto pagamento de cerca de R$ 30 milhões a Aécio. Segundo a investigação, a suspeita é de que, deste montante, R$ 28,2 milhões em dinheiro foram entregues em uma sala comercial em Ipanema, no Rio, e US$ 900 mil em pagamentos no exterior.
Os recursos teriam sido repassados a Aécio para que o então senador influenciasse o andamento do projetos no Rio Madeira – Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia.
Outros delatores da Odebrecht disseram que Dimas Toledo, apontado por investigadores da Lava Jato como operador do deputado mineiro, esteve no escritório da Odebrecht no Rio de Janeiro e apresentou um cronograma de pagamentos referentes aos R$ 30 milhões que cabiam à empresa.
No depoimento, Pereira e Silva afirmou que quando trabalhou na gerência de Recursos Humanos da Odebrecht, entre 2009 e 2013, recebeu de Valladares, de quem era subordinado, a incumbência de fazer a programação dos pagamentos de caixa 2 da área de energia da empreiteira. Ele disse que recebeu uma planilha contendo pagamentos relacionados ao Projeto Madeira, que estava em andamento.
O delator afirmou que havia uma programação de pagamentos de codinome “Mineirinho” na planilha. Segundo ele, em 2009 “já haviam feito pagamentos, mas que ainda restava uma parte”. “O declarante se recorda que, em pelo menos duas oportunidades, o sr. Henrique Valladares solicitou que o declarante verificasse a situação dos saldos de pagamentos feitos a ‘Mineirinho’; que nestas oportunidades o sr. Henrique Valladares estava reunido com o sr. Dimas Toledo para tratar a respeito desses pagamentos.”
O depoimento era considerado fundamental para a apuração. Em outubro, a procuradorageral da República, Raquel Dodge, pediu a prorrogação do inquérito por 60 dias porque os investigadores queriam mais tempo para ouvir o ex-gerente, que havia aderido ao acordo de leniência da Odebrecht. Pereira e Silva depôs em 4 de dezembro.
Defesas. Em nota, o advogado Alberto Toron, que defende Aécio, diz que Pereira e Silva nem “sequer cita o nome do deputado Aécio Neves, a quem não conhece, e tampouco faz qualquer ligação do deputado ao codinome apresentado”. “Registre-se que o delator foi chamado para depor sobre determinado codinome e não sobre acusações ao deputado Aécio. Depois de mais de dois anos de investigações não foi encontrado qualquer elemento que vinculasse o deputado às denúncias feitas. Razão pela qual a defesa confia no arquivamento do presente inquérito.”
O advogado Rogério Marcolini afirmou que Dimas Toledo “jamais esteve com Henrique Valladares para tratar de assuntos de interesse de Aécio Neves ou de ‘Mineirinho’, não tendo conhecimento do apelido ou de quem poderia ser chamado por tal alcunha”. Valladares não foi localizado ontem.